terça-feira, 3 de julho de 2007

OLHARES SOBRE O DESENVOLVIMENTO MORAL

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva
O termo moral é derivado do latim mores, que significa relativo aos costumes. Pode ser definido também como a aquisição do modo de ser conseguido pela apropriação ou por escalas de aquisição, onde se encontram o caráter, os sentimentos, a conduta, hábitos e atitudes individuais e/ou coletivas.
Logo , o termo moral significa tudo o que se submete a todo valor onde devem predominar na conduta do ser humano as tendências mais convenientes ao desenvolvimento da vida individual e social, cujas aptidões constituem o chamado sentido moral dos indivíduos.
O desenvolvimento humano sob a óptica da moralidade é fruto de estudos de dois expoentes da psicologia do desenvolvimento humano: Jean Piaget e Lawrence Kohlberg. Piaget pauta seus estudos no julgamento moral do educando como fruto de seu desenvolvimento bio-fisico e psicológico. Conforme a mente “amadurece” há uma tendência a que o indivíduo assimile e acomode os conceitos e valores sociais passando a vivê-los no seu cotidiano. Para Piaget existem fases do desenvolvimento moral, a anomia e a heteronomia; que são superadas conforme as pessoas vão ficando mais velhas e evoluindo em suas relações, até conquistar a autonomia.
A anomia caracteriza as crianças de até um ano e meio, que fortemente egocêntricas não conhecem o que é certo e o que é errado, são incapazes de seguir normas. Neste momento, o tipo mais forte de relação que estabelecem é o de afeto pelos pais.
A heteronomia é característica do momento que surge o respeito a regras que são impostas por pessoas mais velhas, que são exteriores à criança e ditadas de forma coerciva. Por isso se desenvolve um respeito unilateral em relação ao adulto, baseado em dois sentimentos: o afeto e o medo.
No entender de Piaget ser autônomo significa estar apto a cooperativamente construir o sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas pelo respeito mútuo. Na autonomia, as leis e as regras são opções que o sujeito faz na sua convivência social pela auto-determinação. Para Piaget, não é possível uma autonomia intelectual sem uma autonomia moral, pois ambas se sustentam no respeito mútuo, o qual, por sua vez, se sustenta no respeito a si próprio e reconhecimento do outro como ele mesmo.
Para Kohlberg a maturidade moral é atingida quando a pessoa é capaz de discenir senso de justiça de senso de legalidade; que algumas normas existentes podem ser moralmente erradas e devem, portanto, ser alteradas. Todo ser é potencialmente capaz de transcender os valores da cultura em que ele foi socializado, ao invés de incorporá-los passivamente. Este ponto central na teoria de Kohlberg e que representa a possibilidade de um terreno comum com teorias sociológicas cujo objeto transforma a sociedade. O pensamento pós-convencional, enfatizando a democracia e os princípios individuais de consciência , parece essencial norma da cidadania.
Kohlberg estudou o desenvolvimento da
moral e elaborou a teoria dos estágios morais, pois teve a crença que o nível mais alto da moralidade exige estruturas lógicas novas e mais complexas do que as apresentadas por Piaget. Assim, segundo o autor, existem três níveis da moralidade.
O primeiro estágio é o nível pré-convencional que se apresenta pela moralidade heterônoma, onde "as regras morais derivam da autoridade, são aceitas de forma incondicional e a criança obedece a fim de evitar castigo ou para merecer recompensa" O indivíduo deste estágio, define a justiça em função de diferenças de poder e status, sendo incapaz de diferenciar perspectivas nos dilemas morais. Há neste nível um segundo estágio, o qual Kohlberg, chamou de moralidade de intercâmbio,pois inicia-se o processo de descentração, possibilitando ao indivíduo perceber que outras pessoas também tem seus próprios interesses, porém a moral ainda permanece individualista, fazendo com que estabeleça trocas e acordos.
O segundo estágio, foi chamado de nível convencional, o qual importa-se com o reconhecimento do outro e inclui dois estágios: o da moralidade da normativa interpessoal e o da moralidade do sistema social. No primeiro começa-se a seguir as regras para assim garantir um bom desempenho do papel de "bom menino" e de "boa menina", percebe-se uma preocupação com as outras pessoas e seus sentimentos. Já no segundo estágio, o indivíduo "adota a perpectiva de um membro da sociedade baseada em uma concepção do sistema social como um conjunto consistente de códigos e procedimentos que se aplicam imparcialmente a todos os seus membros.
O terceiro estágio denominado de nível pós-convencional como o mais alto da moralidade, pois o indivíduo começa a perceber os conflitos entre as regras e o sistema, o qual foi dividido entre o estágio da moralidade dos direitos humanos e o estágio dos princípios éticos universais. Neste nível, os comportamentos morais passam a ser regulados por princípios.
Como o objetivo maior da educação, segundo Edgar Morin, situada no contexto da globalização, é fortalecer as condições de possibilidade de emergência de uma sociedade-mundo. Esta seria composta por cidadãos protagonistas, conscientes e criticamente comprometidos na edificação de uma civilização planetária através de cidadania participativa. Cabe a escola e aos educadores mobilizarem esforços no sentido de entender e desenvolver ações de acordo com as faixas etárias em função das características de desenvolvimento próprias. Não há engessamento, os estágios não são castas. Entretanto, há fenômenos comportamentais que precisam ser entendidos como próprios daquela fase de vida e a nós atuarmos em perspectivas de inclusão e não de segregação com práticas patrocinadas pelas cegueiras que se formam ao longo da práxis e que estruturam rotulações. Educar realmente é árdua tarefa. Cuidado é palavra de ordem. Observação é comportamento necessário ao educador comprometido com seu trabalho e com sua atuação responsável como hominizador da juventude. Para tanto, é preciso que nos hominizemos, pois para a educação moral o exemplo é o grande referencial. Conceitos tais como professor & educador e individualismo & coletividade são posicionamentos a serem refletidos e reavaliados, vocês não acham?

Um comentário:

Celma Lopes Ferreira disse...

Parabéns, professor! É isso mesmo! Entretanto, o que a equipe pedagógica da escola cobra é: o que vem de casa e não chega à escola e o que sai da escola e não pratica em casa.

Celma Lopes