sexta-feira, 29 de junho de 2007

OLHARES SOBRE O PENSAMENTO SISTÊMICO E A EDUCAÇÃO

Olhares sobre o Pensamento Sistêmico e a Educação

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva


Eu digo que o homo sapiens é ao mesmo tempo o homo demens, capaz das maiores loucuras, até as mais criminosas, as mais insensatas. Não se pode separar os dois, porque entre os dois circula a afetividade, o sentimento, não existe racionalidade pura, até o matemático completamente dedicado à racionalidade matemática o faz com paixão.

Edgar Morin


Por vezes me surpreendo com minhas falas e ações. Em minha crença filosófica, entendendo que somos produto e produtores do meio em que vivemos, numa reação dialógica, de um ir e vir que exprime nossa realidade ao mesmo tempo convergente e divergente, paralela e transversal, antagônica e complementar, por vezes somativa e por outras subtrativa. Cito aqui como ilustração que quando fui ver Hamlet me deparei com frases prontas que havia agregado ao meu jeito de ser, de viver e conviver, antes de estar em contato com a obra de Shakespeare, tais como: “tem algo de podre no reino da Dinamarca” e “existem mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia”. Fico imaginando de onde viriam estas falas. Decerto ouvi de alguém e foi ao encontro de minha visão do mundo e das coisas, que pairou sob meu inconsciente.
Que coisa interessante é se deparar com demonstrações da complexidade humana e das múltiplas influências que sofremos e proporcionamos a outrem. Heráclito de Éfeso, reconhecidamente, tem suas razões quando afirma:

Quando um homem atravessa um rio, nem o rio, nem o homem são mais os mesmos. O homem leva um pouco do rio e o rio leva um pouco do homem.

Assim somos nós educadores, impregnadores e impregnados de valores intelectuais, morais e sociais, elementos paradigmáticos de nossas relações interpessoais e intrapessoais.
Realinhando estes comentários, a educação, como ciência que trata do ensino e da aprendizagem, é e está mergulhada nesta sinérgica mudança que se opera neste início de século, marcada por rupturas significativas no pensamento ocidental, sob a esfera de atuação das postulações de Heisenberg e seu princípio da incerteza, da teoria autopoiética de Maturana e Varela, e do pensamento complexo de Edgar Morin.
O princípio da Incerteza de Heisenberg tem como premissa que essencialmente não existe meio de medir com precisão as propriedades mais elementares do comportamento das partículas atômicas. Ou melhor, quanto mais precisamente você mensura um fenômeno – por exemplo, o movimento eletrônico -- menos precisamente você tem inferência sobre outra -- nesse caso, sua posição. Mais precisão de uma, menos precisão de outra. Em sua teoria fica claro que o determinismo e o mecanicismo proposto por Descartes é limitado à análise de determinados fenômenos naturais, possibilitando questionarmos a validade deste modelo para as ações científicas e humanas. Transpondo este pensamento para as ciências sociais, traduzimos este princípio como as lentes da física para a complexidade dos fenômenos, criação da fissura necessária para rupturas que se operaram a posteriori.
Maturana e Varela postulam a Autopoiese que quer dizer autoprodução. Os sistemas naturais, sociais e os, por fim, educativos são autopoiéticos por definição, porque recompõem continuamente os seus componentes desgastados. Trata-se de um sistema que se comporta tal qual uma cadeia alimentar, sistema modelar biológico que demonstra a relação entre matéria e energia e os fenômenos que regem a regulação da própria vida. Dr. Ian Malcolm, o caricato matemático de Jurassic Park nos diz:

A história da evolução nos diz que a vida supera todas as barreiras. A vida se espalha. Ocupa novos territórios. De modo doloroso, por vezes perigoso. Mas a vida dá um jeito. Eu não queria bancar o filósofo, mas é isso aí.


A reforma do pensamento é a bandeira de Edgar Morin, partindo das indicações de Pascal, “considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tanto quanto conhecer o todo sem conhecer as partes...” nos remete a idealizarmos reformas no ensino para reformar o pensamento de modo à superação de modelos ineficazes e ineficientes que visem à construção de um sentimento de planetaridade, de identidade e vínculo com a própria existência natural, social e humana.
O pensamento sistêmico não é uma colcha de retalhos, é um mosaico, produzido, reproduzido e construído por diferentes mãos e referenciais. Não há pai nem mãe do pensamento sistêmico, diferentemente do cartesianismo que fora construído num modelo patriarcal, engessado e inquestionável, acima do bem e do mal, um deus.
Na educação, espaço de reflexão e ação, não há outro rumo senão mudar o próprio rumo. Superar o divórcio entre os saberes, por meio de estratégias que valorizem a disciplinaridade, o conteúdo e os saberes construídos pela humanidade, por meio de teias relacionais como propõem a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são ações impares que contribuem para a formatação humana e a própria humanidade. O olhar necessário para ação necessária na direção e sentido necessários.

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