sexta-feira, 28 de março de 2008

OLHARES SOBRE OS PARADIGMAS E A EDUCAÇÃO

OLHARES SOBRE OS PARADIGMAS E A EDUCAÇÃO
Por prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva


De acordo com a legislação educacional brasileira, a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Esta é a argumentação legal que determina os princípios e os fins da educação nacional, conforme disposições do artigo segundo da lei de diretrizes e bases da educação nacional, lei 9394/96.

Observa-se que o ideário iluminista da revolução francesa ainda ecoa no pensamento político que modela a legislação nacional que, por sua vez, apontam os caminhos das políticas públicas do estado brasileiro.

O liberalismo francês é alicerçado nos valores sociais e morais de liberdade, igualdade e fraternidade. Tal ideologia pavimenta e sedimenta os caminhos, linhas e ações da sociedade, das práticas e das políticas.

Thomas Kuhn postula em sua obra “a estrutura das revoluções científicas”:

paradigma como uma constelação de conceitos, valores, percepções e práticas, adotados por uma comunidade. Em última instância, define a maneira como uma sociedade se organiza e se relaciona com o mundo ao seu redor. A amplitude do termo nem sempre é assimilada por quem o utiliza.

Tal pensamento nos remete a indagarmos a dicotomia entre o ideário pedagógico e a práxis escolar. Se por um lado os discursos estão impregnados da psicologização de Piaget e sua epistemologia genética, estágios de desenvolvimento intelectual, de Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal, de Roger e sua aprendizagem centrada na pessoa, de Freud e o desenvolvimento humano, por outro é notório que a prática é autocrática, cartesiana, disjuntiva e fragmentadora, multidisciplinar.

Indagamos por quê? Por que uma quantidade significativa de profissionais da educação são professores, na minha concepção tarefeiros da educação que simplesmente querem seguir a cartilha e não discuti-la, transformá-la e transgredi-la? Será que, como versa Marina Colassanti, a gente se acostumou?

Será que o modelo instrucionista está dando conta das demandas educacionais, sociais e laborais de nosso tempo? Será que a administração de conteúdos tem sido feito de forma construtivista ou os conceitos, procedimentos, hábitos e atitudes têm seus significados impostos aos educandos?

Será que a pedagogia tecnicista impregnada pelo fordismo/Taylorismo, nos moldes do pós-guerra, tem dado conta das necessidades, anseios e receios deste início de século?

Será que temas obsoletos, fragmentação do saber, educação propedêutica para o vestibular não está contribuindo para a formação de uma geração de alienados?

Em face de todos os questionamentos apresentados defendemos a bandeira de que a educação deve dispor de modelos que contribuam efetivamente com o seu tempo e com sua sociedade. Uma educação que valorize o saber, o saber fazer, o saber ser e o saber conviver.
Uma educação que supere a tecnocracia e o entorpecimento causado pelas tecnologias da informação. Uma escola feita de gente, para gente. Humanização da escola e hominização do professor já!
Esta é a palavra de ordem.

terça-feira, 25 de março de 2008

OLHARES SOBRE A TRANSDISCIPLINARIDADE

POR PROF MS JORGE RICARDO MENEZES DA SILVA

Vivemos tempos de transição do mecanicismo determinista de Renée Descartes por meio do “cogito, ergo sun – penso, logo existo” para a complexidade postulada por Edgar Morin e amparada pela teia da vida de Fritjof Capra e pela autopoiese de Maturana & Varela.

A causalidade revela-se incongruente com nosso tempo sócio-histórico, pois parte da premissa newtoniana de que a queda da maçã depende simplesmente da ação da gravidade. No cenário docente seria o mesmo que afirmar dentro de uma visão reducionista e disjuntiva que a aprendizagem do educando depende simplesmente de sua vontade em ensinar.

A complexidade é a maneira de enxergar os fenômenos naturais, sociais e humanos de forma transdisciplinar, isto é, como algo tecido em conjunto por uma série de fatores interligados que compõem a estrutura e a conjuntura da questão sob observação e análise.

No campo da educação significa que planejar e avaliar parâmetros tais como o ensino, a aprendizagem, a avaliação, o desempenho docente, o desempenho discente, o questionamento dos pais/responsáveis deve observar esta dinâmica: estrutura e conjuntura.

Capra postula a visão ecossistêmica de todos os eventos que compõem a Terra. Tal pensamento demonstra que o nobre filósofo observa a rede de relações que se estabelecem para consecução de uma ação, tanto que intitulou sua obra como teia da vida.

Seguindo esta trajetória, Maturana & Varela argumentam a autopoiese, isto é, a capacidade de criação, produção e reprodução de sistemas devido as suas características singulares e plurais. Uma sala de aula é isso, o encontro de singularidades para formação de pluralidades cognitivas, atitudinais e procedimentais.

O comportamental individual e coletivo de grupos humanos se revestem dos estímulos que o cenário proporciona. O compromisso do educando com o saber, de uma forma não determinística, revela as interações e as intervenções que os docentes, tal qual um corpo, de forma sistêmica, atuam no sentido da construção do conhecimento humano equilibrando racionalidade e afetividade com o objeto de estudo e com as componentes envolvidas ambiente, recursos didáticos e educandos.

A transdisciplinaridade, portanto, articula esta rede de relações da pós-modernidade buscando a compreensão da complexidade. A disciplinariridade curricular deve ser superada por meio da transversalidade, da contextualização e da interdisciplinaridade, na atuação individual de cada docente.

Assim sendo, a coletividade docente deve se revestir da transdisciplinaridade que une a ação educativa visando à formação humana e laboral no sentido de que nossos educandos encontrem na escola um espaço sintonizado com as demandas de nosso tempo. Educadores e educandos em teia, redes de educadores, redes de educandos. Trabalho em equipe, times de trabalho, aprender a conviver, viver em diversidade, respeito ao outro.

A perspectiva de atuação transdisciplinar exige do educador uma nova postura. Postura esta que exige comprometimento com sua própria formação e a construção de uma sociedade mais humana.

Quem tem disposição, vontade e uma forte dose de utopia que compre esta idéia. Quem não tem continue a culpar o educando, a família, a escola, a sociedade, o governo, o sistema. Ah! É mais fácil ir para outro planeta.

sexta-feira, 14 de março de 2008

OLHARES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE

POR PROF MS JORGE RICARDO MENEZES DA SILVA

"Toda a nossa vida não é mais do que uma permanente tentativa de comunhão com os outros”.
Thomas Bernhard



A laboralidade docente, como já é de notório saber, não se reduz ao trabalho de sala de aula, simplesmente. A trabalho do educador deve estar revestido de conscientização, isto é, consciência somatizada à ação. A reflexão em voga se reveste da pedagogia da práxis, que encontramos definida por Gadotti:


“A pedagogia da práxis é a teoria de uma prática pedagógica que procura não esconder o conflito, a contradição, mas, ao contrário, entende-os como inerentes à existência humana, explicita-os, convive com a contradição e o conflito. Ela se inspira na dialética. O referencial maior dessa pedagogia é o conceito de práxis. Práxis, em grego, significa literalmente ação...”
“A pedagogia da práxis pretende ser uma pedagogia para educação transformadora. Ela radica numa antropologia que considera o homem um ser incompleto, inconcluso e inacabado e, por isso, um ser criador, sujeito da história, que se transforma na medida mesma em que transforma o mundo”.


Em nossa perspectiva de ação, inspirada pela dialética, conforme elocubração de Darcy Ribeiro na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, cabe ao docente participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional, pois nestes espaços de comunhão nós educadores podemos refletir e idealizarmos práticas docentes sintonizadas as demandas sociais da escola pós-moderna.

Nesta escola temos que investir na perspectiva da formação das redes de trabalho, o network pregado pelos novos paradigmas das relações humanas no trabalho. O network é nada mais nada menos que a teia de relações que estabelecemos em nossa vida, seja no campo pessoal, seja no campo profissional.

A organização do trabalho docente é assim mesmo, unindo aspectos aparentemente divergentes, cristã (amai-vos uns aos outros), comunista (regime social onde existe uma igual distribuição de riqueza e a propriedade comum de todos os bens), holística (maneira de ver o mundo, o homem e a vida em si como entidades únicas, completas e intimamente associadas) e complexa (corresponde à multiplicidade, ao entrelaçamento e à contínua interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo).

Com base no exposto não podemos ter nem o pensamento e muita menos a ação reducionista, fragmentada e disjuntiva. Nosso fórum de atuação é a sala de aula e esta sala de aula se cobre do manto da interação profissional e acadêmica e tal possibilidade se constrói pelo encontro de pessoas, de modo que possam efetivar a comunhão, a discussão dos aspectos convergentes e divergentes que se estabelecem no âmbito escolar.

O compromisso docente é este. Participar ativamente, opinar, ouvir, compartilhar experiências, estar receptivo. Assim se constrói uma escola de qualidade, uma sociedade melhor e um mundo mais humano.

Você é ou está comprometido com estas idéias?