sábado, 22 de novembro de 2008

OLHARES SOBRE A MEDIOCRIDADE NA EDUCAÇÃO

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

Demorei muito para me posicionar sobre esta temática. Demorei porque sei que vou cutucar nas feridas, porque vou revolver o pó assentado nos porões do comportamento humano. Para estimular meu raciocínio fui buscar elementos que me permitissem dialogar com os baluartes da filosofia, então, sem mais delongas vamos nós.

A mediocridade é argumentada de forma prosaica por Delacroix:

Não se tem idéia como abunda a mediocridade. (...) São pessoas como essas que travam sempre, em todos os lados, a máquina acionada pelos homens de talento. Os homens superiores são por natureza inovadores. Quando surgem deparam com o disparate e a mediocridade por todos os lados (ela que tudo domina e que se manifesta em tudo o que se faz). O seu impulso natural é assentar tudo de novo em terreno sólido e experimentar caminhos novos, para fugir a essa vulgaridade e parvoíce. Se por acaso eles triunfam e acabam por levar a melhor sobre a rotina, têm de ser ver as contas, por seu turno, com os incapazes - que fazem ponto de honra da cópia grosseira dos seus processos e estragam tudo o que lhes vem às mãos.
Depois deste primeiro movimento, que leva os inovadores a saírem das sendas já traçadas, segue-se quase sempre outro que os faz, no fim da sua carreira, conter o indiscreto entusiasmo que vai sempre demasiado longe e que, pelo exagero, arruína o que inventaram. Ao se darem conta do triste uso que é feito das inovações que eles lançaram no mundo, começam a elogiar aquilo que, afinal, graças a eles, foi ultrapassado. Talvez haja neles como que um secreto impulso de egoísmo, que os leva a tiranizar a tal ponto os seus contemporâneos e a considerar que só eles podem determinar o que deve ou não ser criticado. É a sua quota-parte de mediocridade; esta fraqueza fá-los por vezes desempenhar um papel ridículo e indigno da consideração a que conquistaram direito.


Ao efetuar esta leitura não pude deixar de lembrar de dois ícones da história da humanidade: Sócrates de Atenas e Jesus de Nazaré.

Sócrates de Atenas é considerado como o divisor de águas na história do pensamento ocidental, o que significa dizer que a filosofia se assenta em antes e depois de Sócrates. Entretanto, mesmo sendo um ser humano de inegável sabedoria cujos ensinamentos atravessam vinte e cinco séculos, mesmo sem ter escrito uma única palavra, foi acusado, julgado e morto por tribunais de seus contemporâneos. O objeto de acusação: corrupção da juventude.

Tudo porque Sócrates de Atenas promovia a avaliação reflexiva da existência humana e das ações mediado pela ironia, o que hoje chamamos de análise das causas e dos efeitos, objeto empregado como ferramenta na contemporaneidade como ferramenta da gestão da produção e manutenção industrial.

Jesus de Nazaré, conforme narrativas nos evangelhos têm uma trajetória meteórica, emerge no âmago de um processo conturbado sob o prisma sócio-político do povo judeu cujos líderes políticos e religiosos em nome de benesses junto ao jugo do Império Romano, colocavam o povo e suas necessidades biofísicas, sociais, psíquicas e espirituais em subplanos, atitudes em total desacordo com os textos do antigo testamento, escritos que registravam os parâmetros comportamentais a serem seguidos sob a égide teológica da fé judaica.

O próprio Jesus afirmou que não veio questionar a lei, veio cumpri-la, mas parece que cumprir a lei é algo que deixa as pessoas sob ameaça e uma vez ameaçadas atacam, violentam na moral e no físico, até mesmo matam. Neste contexto, Jesus também foi alvo de intrigas, sofreu perseguições, foi traído e abandonado, julgado, trocado por Barrabás e assassinado. Mesmo depois de morto ainda foi perseguido.

Como Sócrates, Jesus não escreveu uma linha. Entretanto, seus ensinamentos e profissão de fé por muitas vezes coloca nossas posturas pautadas em egoísmo e individualismo em cheque. Contudo, suas ações e menções romperam o limiar da teologia e seus modelos pedagógicos têm sido referência na gestão de pessoas neste início de século XXI.

Fica evidente que é um comportamento de natureza humana perseguir aqueles que nos remetem ao pensar o nosso agir. Em nome de uma moralidade hipócrita caçamos e executamos aqueles que provocam nossa reflexão, crucificamos e envenenamos mentes iluminadas para nos mantermos confortáveis dentro dos limites de nossa mediocridade.
O que me assusta é que as pessoas, mesmo aquelas formadas na academia, esquecem os rumos da história da filosofia e da teologia cristã, saberes que devemos dominar a fim de compreendermos o presente e esboçarmos um futuro mais humano.

Trago a baila argumentações que revelam nossa mediocridade, pequenez e visão limitada. A história de Maria Madalena, onde esta representa os excluídos, os rotulados, os julgados dentro da lógica classificatória, mecanicista, fragmentadora e disjuntiva, que fora acusada e condenada.
A sapiência Jesus fora questionada a respeito dos comportamentos de Maria Madalena e Jesus, com a sabedoria e simplicidade peculiar aos mestres, apenas exprime “aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra”. Seria o mesmo que dizer “aquele que não erra que exclua”.

Em educação, o erro evidencia apenas o que fora aprendido de forma parcial ou não foi aprendido, deve servir para que o educador, o coordenador pedagógico e o corpo docente atuem em perspectivas de efetivar ensino de modo a promover aprendizagens que se revelam no conhecer, no fazer, no agir, no viver e conviver.

Contudo, dentro da lógica racionalista, o fato de ignorar um saber, seja de forma total ou parcial, em aspectos evidentemente cognitivos, tem servido de instrumento de discriminação e segregação e não como um instrumento de reflexão da própria práxis pedagógica, como se observa nas pedagogias liberais.

Em outra óptica, em um verdadeiro pedagocídio(neologismo aplicado por Hamilton Werneck), a promoção da aprovação automática, tem sido instrumento de reprodução da lógica burguesa das castas sociais. Quem é pobre, permanecerá pobre simplesmente porque dentro de uma postura irresponsável está se acentuando os índices de analfabetismo funcional, pessoas portando certificados de ensino fundamental sem dominar as competências e habilidades mínimas da norma culta da língua materna e das operações aritméticas básica. Cuidado com esta pseudodemocracia travestida de inclusão social, nos alerta o padre português Vasco Pinto de Magalhães:

O grande engano da mediocridade! Este é um alerta para os nossos dias. O fácil, o imediato, o que dá para todos, o que passa por democrático, o que está 'benzinho' e mediano, parece, tantas vezes, a solução. Não fazer ondas, ceder, ir pelo mais ou menos, vale tudo desde que não chegue cá o incômodo: este é o retrato dos desiludidos! Nivelar por baixo não é caminho, é engano.

A responsabilidade pela eficácia dos processos educativos é atribuição docente. Para que o docente seja capaz de agregar valores, conhecimentos, procedimentos, hábitos e atitudes se faz necessário que ele transmita automotivação de modo que os educandos se sintam “contaminados” pela importância de dominar os saberes disseminados em sala de aula.

Cabe ao educador tirar o educando da zona de conforto, mostrando ao mesmo o quão importante é dominar os conteúdos administrados para sua vida cotidiana, seja no campo pessoal, social ou laboral. Tirar da zona de conforto é importante parâmetro para mobilização das inteligências.
Infelizmente, mobilizar as inteligências tem sido parâmetro relegado ao segundo plano, pois o estilo bancário de educar e avaliar não permite a verificação complexa das competências e habilidades construídas pelo domínio dos saberes. Esta valorização enciclopédica formatada pela ditadura do conteúdo inibe a liberdade possibilitada pela construção dos conhecimentos.

Esta forma medíocre de educar e disseminar a cultura humana são agente nocivo no palco da laboralidade, uma vez que a atuação humana exige ações proativas, rapidez de raciocínio, apresentação de hipóteses de solução com viabilidade técnica, social, econômica e ambiental em situações de enfrentamento de problemas.

Para ser capaz de dispor deste cabedal de habilidades o educando deve dominar linguagens e compreender fenômenos o que significa que ele deva saber (dispor de elenco de saberes memorizados). Contudo, para argumentar e elaborar propostas, ele deve mobilizar estes saberes de modo a intervir na sua própria vida e na vida de outrem, o que significa que seu agir deve ser parametrizado pela ética, em total respeito à vida humana em todas suas vertentes: biológica, física, social, psicológica e espiritual.

Ufa!!!!!!!!!!!!!!!
Precisamos ou não romper com a lógica vigente?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

FECULT NA FOLHA DIRIGIDA

FECULT na Folha Dirigida

Samba é tema da Feira na Eterj


Um espetáculo com luzes, pirotecnia e muito samba, invadiu a 16ª Feira de Cultura da Escola Técnica do Rio de Janeiro/Novo Rio (Eterj) no mês de julho. O tema da Feira neste ano foi "Este samba dá enredo" e levou, aos participantes, uma releitura de 34 enredos narrados na Sapucaí, nos últimos 25 anos.

As letras do sambas-enredo foram os objetos de estudo dos jovens, que puderam observar uma história ou uma fábula que serve de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. De acordo com coordenador pedagógico da instituição, Jorge Ricardo Menezes, atuar na perspectiva de desvendar as nuances de enredos desenvolvidos por escolas de samba permitiu abordar incontáveis aspectos e traços da cultura brasileira e mundial. "Pudemos congregar as diferentes comemorações em voga no ano de 2008, tais como centenário de Cartola, centenário da imigração japonesa, duzentos anos da chegada da Família Real Portuguesa, centenário de Machado de Assis e cinqüentenário da Bossa Nova", comenta.

Segundo o educador, o objetivo da equipe pedagógica foi fomentar a visão do papel individual e coletivo dentro das premissas laborais do século XXI. "Trabalho em equipe, solução de problemas, empreendedorismo, liderança, proatividade, criatividade e inventividade são alguns desses valores.

O evento contou com a presença de figuras ilustres do mundo do samba como o Maestro Guerra Peixe, vice-presidente cultural da Mangueira e Compositor campeoníssimo pela Mocidade Independente de Padre Miguel Neuso Sebastião de Amorim Tavares, o Tiãozinho Mocidade.

domingo, 20 de abril de 2008

OLHARES SOBRE UMA EDUCAÇÃO HOMINIZADORA EM UMA ESCOLA HUMANIZADA

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

O cotidiano escolar é revestido de procedimentos e ações que findam consolidando no professor uma postura mecanicista, transformando-o em um verdadeiro tarefeiro escolar, postura profissional altamente distanciada dos referenciais necessários àquele que deve estimular o pensamento crítico e a cidadania participativa.

Cabe a ele apenas o ensinar, com caráter disjuntivo e reducionista, a memorização de fatos, conceitos e procedimentos, e aos alunos aprender dentro destas premissas. Nesta óptica se eles não aprendem, não é responsabilidade do professor pelo simples fato de que ele ensinou. Não é uma acusação. Não estamos diante de um tribunal e muito menos sou um promotor de justiça. É uma infeliz constatação. E esta está contribuindo na conformação de hiatos sociais que formam verdadeiros abismos entre humanos.

Esta visão pontual e fragmentada é fruto de uma formação cartesiana alicerçada por séculos de distorções interpretativas do papel da educação no desenvolvimento humano em todas as suas variáveis: cognição, psicomotricidade e afetividade.

Para romper com a postura academicista e bancária que a educação e o professor estão parametrizados, a escola deve investir na sensibilização dos profissionais da educação de modo a comprometê-los com a redução dos processos de exclusão escolar e consequentemente social que afetam a comunidade local e, por conseguinte a aldeia global.

A hominização é o processo de transformação biológica, física, psíquica, social e espiritual do símio em ser humano. Infelizmente, muitos de nós embora tenhamos estética humana, sob a mitologia judaico-cristã sejamos a imagem e a semelhança de Deus, estamos muito aquém das parametrizações comportamentais que nos aproxime do divino, conforme narrativas do evangelho.

Ser hominizado é compreender e agir de forma humana. É integrar a tríade da essência humana: mente, corpo e emoções. É entender o próprio eu, conforme postula o oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo que as portas do conhecimento se abrirão para ti” e daí entender o outro, em suas potencialidades e em suas dificuldades. É contribuir de forma magistral no desenvolvimento humano de outrem.

Na escola todos os professores são humanos. Entretanto, não podemos afirmar que todos são humanizados. A humanização requer o atendimento de quatro prerrogativas básicas: resolutividade, maturidade emocional, autonomia moral e intelectual, e visão holística.

A resolutividade se reveste da capacidade do educador estar preocupado e agir em relação a sua formação. No entendimento que sua competência laboral deve ser objeto constante de avaliação em todos os segmentos: cognitivo, procedimental e atitudinal.

A maturidade emocional reside em saber conviver, em lidar com as diferenças e com a diversidade, em administrar os conflitos de forma imparcial utilizando referenciais de justiça e equidade, lembrando sempre que o adulto e o profissional de educação é você.

A autonomia moral e intelectual se cobre do plano ético, do saber agir e conduzir situações empregando os padrões morais, que fundamentam o senso comum da vida em sociedade e ao mesmo tempo tendo bom senso em aplicar o direito procurando caminhos para o exercício docente com honestidade e dignidade humana.

A visão holística é o pleno entendimento das variáveis que compõem o ato de ensinar no sentido antropológico, respeitando os caracteres biológicos, psicológicos, sócio-culturais e espirituais do educando.

Educar nestas premissas é um sonho possível? Você é um hominizador humanizado? Você é uma hominizadora humanizada?

Na busca incessante de uma resposta que satisfaça meus anseios e necessidades, martelam em minha alma educadora as provocações do ilustre brasileiro Huberto Rohden:

“O educador não é um simples professor que transmite idéias a seus alunos – é um verdadeiro mestre que vive tão intensamente a verdade que seus discípulos se sintam irresistivelmente contagiados por estas poderosas auras”.

“Antes de educar os outros, deve o homem educar a si mesmo”.

“O homem instruído na ciência pode ser bom ou mau, mas o homem que educou sua consciência é bom e feliz”.

“Pois deve o educador saber que todo ser humano é um universo, isto é, uma unidade (uni) que se desdobra em diversidade (verso)”.


Entende-se, portanto, que o educador esteja comprometido e conscientizado da ação social que lhe é depositada. Educador não é profissional de linha de produção, até porque mesmos estes na pós-modernidade estão comprometidos por questões de programas de qualidade na redução das perdas nos processos de produção de bens e com a visão sistêmica da própria produção. Crê-se que em educação, por ser um serviço, não deveria ser diferente.

O educador deve compreender, ainda, seu compromisso político e ideológico com a educação, com a formação e o desenvolvimento de seres humanos, que não quer dizer ser ou estar adepto a um partido político, e sim a importância coletiva de sua labuta, da teia que conforma a ação pedagógica, time de professores atuando para vencer os desafios impostos sejam eles desvalorização financeira ou moral, classes numerosas, falta de infra-estrutura, violência urbana etc.

Finalmente, fica a mensagem em forma de poesia de Bertold Brecht:

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

É preciso, necessário e salutar se engajar nesta luta.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

FOLHA DIRIGIDA - COLUNA DOS COLÉGIOS



Coluna dos Colégios



17/04/2008

Alunos da Eterj promovem ação social para comunidadeSer mais do que instituição de ensino e atender também as necessidades da comunidade. Estes são os objetivos da Escola Técnica do Rio de Janeiro (Eterj/Novo Rio) com a realização de projetos destinados aos moradores de Santíssimo, bairro em que a escola se localiza.
A região apresentou um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) extremamente baixo, da ordem de 0.780, no censo IBGE em 2000. De acordo com a coordenação da escola, esse índice resulta da exclusão social e para ajudar a melhorar a situação e conscientizar os alunos de que é preciso agir, a Eterj mobilizou a comunidade escolar para realizar sua primeira ação social em 2008.
O evento atendeu 50 famílias carentes da região vizinha à escola.Cerca de 250 pessoas, entre crianças e adultos foram recebidos, no último fim de semana com um Café da Manhã Solidário. As pessoas também participaram de atividades artísticas e sociais como Oficina de Cultura e Campanha de combate a Dengue.
Para professora Célia Mirian Melo, coordenadora do evento, o envolvimento dos alunos foi a maior conquista. "Os mesmos atuaram em todas as etapas da ação, desde a obtenção dos alimentos - que foram doados às famílias - e roupas até a distribuição dos gêneros para a população atendida".
De acordo com o coordenador pedagógico da instituição, professor Jorge Ricardo Menezes da Silva, a educação tem o objetivo preparar o jovem para ser útil nas mais diversas esferas sociais. "A educação precisa assumir significado ou ficará vazia de importância".

sábado, 5 de abril de 2008

OLHARES SOBRE A EDUCAÇÃO PARA COMUNIDADE

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

Terminei os últimos apontamentos comentando sobre a alienação proporcionada pela tecnocracia, que no meu humilde ponto de vista não se resume à definição do dicionário, que atribui a esta o conceito de governo dos técnicos.

Atribuo a tecnocracia o conceito de gestão pelas e das tecnologias e neste sentido vivemos nós em uma sociedade impregnada de vários recursos que minha geração não conseguiu vislumbrar nos desenhos dos Jetsons e do Space Ghost.

Os Silvas, nós os silvícolas, os da região silvestre, os tupiniquins, vivemos e convivemos com grandes paradoxos. Se por um lado à inclusão social, assegurada por saúde, habitação e educação com qualidade, ainda não é uma realidade, a inclusão tecnológica é um fato, mesmo que de forma quimeroplástica, isto é, na plástica de quimera, o monstro mítico da Grécia antiga.

Nunca a sociedade brasileira e mundial teve acesso a tanta informação. Entretanto, na TV, no Ipod, no Mp3 e Mp4, no celular que filma, tira foto, grava voz, envia e recebe mensagens, na internet, e outros tantos veículos proporcionados pela telematização consegui-se traduzir informação em saber.

O que fazer diante de tanta tecnologia? Como lidar com este bombardeio de informações que tendem a banalizar questões tão sérias relativas a ecologia natural, social e humana?

Questionamentos que me inquietam. Indagações que me perturbam e que são capazes de me tirar de minha zona de conforto fazendo-me trilhar pelas relvas da sociologia da educação buscando construir caminhos.

Neste sentido ouso me aproximar de Martin Buber, que comunga da filosofia existencialista, e mergulhar no seio de suas proposições a respeito da educação que se concretiza pela pedagogia do diálogo.

O existencialismo propõe o homem, no plano individual e coletivo, como um ser único dotado de responsabilidades por seus atos e seu destino. Tal óptica nos leva a crença sedimentada de que somos frutos de nossas escolhas. Alguém duvida ou tem dúvidas disto?

A pedagogia do diálogo se nutre das relações interpessoais no sentido da construção das relações humanas e se alimenta da experiência das relações entre o cognoscente (sujeito da aprendizagem) e o cognoscível (objeto da aprendizagem).

Dados ao exposto, postulamos a educação para o protagonismo comunitário. Neste sentido esta educação não se permite mais ser teórica, academicista, propedêutica e bancária, se dar somente em ambientes formais por meio da memorização de fatos, de conceitos, fenômenos e procedimentos.

A educação para o protagonismo comunitário só é possível por meio do protagonismo comunitário. Para consecução deste protagonismo, a educação precisa assumir significado e ter significância, pois sem estes parâmetros fica vazia de importância e se perde como trabalho que visa transformar comportamentos.

A educação é fruto da relação educando & educador & comunidade se afirmando como desenvolvimento das capacidades com o que se convive na comunhão dos valores físicos, intelectuais, morais e espirituais por meio das relações interpessoais e intrapessoais.

A escola de ensino médio tem como função social de desenvolver no educando capacidades próprias de nosso momento histórico, tem de estar atrelada ao global e ao mesmo tempo ao local.

A complexidade curricular que dê conta destas exigências é atributo da docência, de modo a estruturar um conjunto de estratégias educativas que possibilitem um processo de ensino e de aprendizagem alinhados as conjunturas naturais, sociais, culturais e econômicas do mundo em que se vive.

Cada área curricular, cada disciplina, cada conteúdo precisa ter tratamento holístico e sistêmico de modo a dispor dos significados necessários a educação plena com forte ligação com as necessidades do educando isoladamente e em sua comunidade.

Os problemas de ecologia natural podem ser resolvidos ou pelo menos minimizados com a observância aos processos de degradação da natureza com a redução, o reaproveitamento e a reciclagem do lixo doméstico, com o uso racional da energia elétrica, com o uso racional da água, com o descarte adequado de materiais considerados não biodegradáveis tais como pilhas e baterias, e o plástico.
No campo da ecologia social as teias relacionais constituídas pela família, pela escola, pelo trabalho e pela religiosidade que tem como objeto o ser humano nas suas relações interpessoais e sua integração com o meio ambiente que se vive só vislumbrará melhorias qualitativas quando o saber conviver estimulado pela convivência permeado pela dialética forem paradigmas educacionais vivenciados ao longo da formação humana iniciada no lar e complementada pela escola.

Na área da ecologia humana há de se trabalhar a auto-estima e as relações intrapessoais, a satisfação das necessidades humanas, traduzidas por conquistas e frustrações, conduzindo ao saber ser e ao saber viver evidenciado pelo autoconhecimento das próprias potencialidades e dificuldades de modo a gerenciar suas emoções.

Neste solo que por muitas vezes revela-se como árido e desértico. Mas, há um enorme caminho a ser trilhado. Por vezes a fadiga do trabalho cotidiano nos conduz a pensarmos e até mesmo a praticarmos a educação bancária e propedêutica sem fim em si mesma. Mas, o sentimento que assola o verdadeiro educador é de realizar por meio de seu trabalho, que embora seja singular não é isolado, algo de importante na vida de seus educandos, os ensina-los a pensar e quem sabe fazer um mundo mais igualitário, com equidade e justiça social.

Os desafios impostos pelas conjunturas mundiais e locais estão aí, não adianta ter o comportamento da avestruz que diante das incertezas e das crises afunda sua cabeça como forma de proteção, mas deixa o corpo à mostra para ser devorado ou consumido pelos algozes predadores.

Há de se comportar como os gansos, que grasnam para o encorajamento do líder e se revezam na árdua tarefa de conduzir o grupo a locais mais aprazíveis quando chegado o frio e a falta de alimentos.

Há de se comportar como o beija-flor que mesmo diante do incêndio da floresta fez a sua parte no intento de apagar as chamas que consumiam o seu habitat, quando todos os outros fugiam.

Há de se comportar como a águia de modo a não se reduzir a galinha e quando necessária a renovação por mais dolorosa e sacrificante que seja ou pareça, trocar o bico, renovando suas principais ferramentas de trabalho, para conseguir sobreviver frente as adversidades da carreira.

É nesse modelo de educação e de educador muito mais que necessários que acreditamos e esta só será possível com olhares diferenciados sobre as práticas educativas, que não podem se reduzir apenas aos belos discursos, mas se revelarem no cotidiano escolar.
Você está disposto a correr este risco? Você está disposta a correr este risco?

sexta-feira, 28 de março de 2008

OLHARES SOBRE OS PARADIGMAS E A EDUCAÇÃO

OLHARES SOBRE OS PARADIGMAS E A EDUCAÇÃO
Por prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva


De acordo com a legislação educacional brasileira, a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Esta é a argumentação legal que determina os princípios e os fins da educação nacional, conforme disposições do artigo segundo da lei de diretrizes e bases da educação nacional, lei 9394/96.

Observa-se que o ideário iluminista da revolução francesa ainda ecoa no pensamento político que modela a legislação nacional que, por sua vez, apontam os caminhos das políticas públicas do estado brasileiro.

O liberalismo francês é alicerçado nos valores sociais e morais de liberdade, igualdade e fraternidade. Tal ideologia pavimenta e sedimenta os caminhos, linhas e ações da sociedade, das práticas e das políticas.

Thomas Kuhn postula em sua obra “a estrutura das revoluções científicas”:

paradigma como uma constelação de conceitos, valores, percepções e práticas, adotados por uma comunidade. Em última instância, define a maneira como uma sociedade se organiza e se relaciona com o mundo ao seu redor. A amplitude do termo nem sempre é assimilada por quem o utiliza.

Tal pensamento nos remete a indagarmos a dicotomia entre o ideário pedagógico e a práxis escolar. Se por um lado os discursos estão impregnados da psicologização de Piaget e sua epistemologia genética, estágios de desenvolvimento intelectual, de Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal, de Roger e sua aprendizagem centrada na pessoa, de Freud e o desenvolvimento humano, por outro é notório que a prática é autocrática, cartesiana, disjuntiva e fragmentadora, multidisciplinar.

Indagamos por quê? Por que uma quantidade significativa de profissionais da educação são professores, na minha concepção tarefeiros da educação que simplesmente querem seguir a cartilha e não discuti-la, transformá-la e transgredi-la? Será que, como versa Marina Colassanti, a gente se acostumou?

Será que o modelo instrucionista está dando conta das demandas educacionais, sociais e laborais de nosso tempo? Será que a administração de conteúdos tem sido feito de forma construtivista ou os conceitos, procedimentos, hábitos e atitudes têm seus significados impostos aos educandos?

Será que a pedagogia tecnicista impregnada pelo fordismo/Taylorismo, nos moldes do pós-guerra, tem dado conta das necessidades, anseios e receios deste início de século?

Será que temas obsoletos, fragmentação do saber, educação propedêutica para o vestibular não está contribuindo para a formação de uma geração de alienados?

Em face de todos os questionamentos apresentados defendemos a bandeira de que a educação deve dispor de modelos que contribuam efetivamente com o seu tempo e com sua sociedade. Uma educação que valorize o saber, o saber fazer, o saber ser e o saber conviver.
Uma educação que supere a tecnocracia e o entorpecimento causado pelas tecnologias da informação. Uma escola feita de gente, para gente. Humanização da escola e hominização do professor já!
Esta é a palavra de ordem.

terça-feira, 25 de março de 2008

OLHARES SOBRE A TRANSDISCIPLINARIDADE

POR PROF MS JORGE RICARDO MENEZES DA SILVA

Vivemos tempos de transição do mecanicismo determinista de Renée Descartes por meio do “cogito, ergo sun – penso, logo existo” para a complexidade postulada por Edgar Morin e amparada pela teia da vida de Fritjof Capra e pela autopoiese de Maturana & Varela.

A causalidade revela-se incongruente com nosso tempo sócio-histórico, pois parte da premissa newtoniana de que a queda da maçã depende simplesmente da ação da gravidade. No cenário docente seria o mesmo que afirmar dentro de uma visão reducionista e disjuntiva que a aprendizagem do educando depende simplesmente de sua vontade em ensinar.

A complexidade é a maneira de enxergar os fenômenos naturais, sociais e humanos de forma transdisciplinar, isto é, como algo tecido em conjunto por uma série de fatores interligados que compõem a estrutura e a conjuntura da questão sob observação e análise.

No campo da educação significa que planejar e avaliar parâmetros tais como o ensino, a aprendizagem, a avaliação, o desempenho docente, o desempenho discente, o questionamento dos pais/responsáveis deve observar esta dinâmica: estrutura e conjuntura.

Capra postula a visão ecossistêmica de todos os eventos que compõem a Terra. Tal pensamento demonstra que o nobre filósofo observa a rede de relações que se estabelecem para consecução de uma ação, tanto que intitulou sua obra como teia da vida.

Seguindo esta trajetória, Maturana & Varela argumentam a autopoiese, isto é, a capacidade de criação, produção e reprodução de sistemas devido as suas características singulares e plurais. Uma sala de aula é isso, o encontro de singularidades para formação de pluralidades cognitivas, atitudinais e procedimentais.

O comportamental individual e coletivo de grupos humanos se revestem dos estímulos que o cenário proporciona. O compromisso do educando com o saber, de uma forma não determinística, revela as interações e as intervenções que os docentes, tal qual um corpo, de forma sistêmica, atuam no sentido da construção do conhecimento humano equilibrando racionalidade e afetividade com o objeto de estudo e com as componentes envolvidas ambiente, recursos didáticos e educandos.

A transdisciplinaridade, portanto, articula esta rede de relações da pós-modernidade buscando a compreensão da complexidade. A disciplinariridade curricular deve ser superada por meio da transversalidade, da contextualização e da interdisciplinaridade, na atuação individual de cada docente.

Assim sendo, a coletividade docente deve se revestir da transdisciplinaridade que une a ação educativa visando à formação humana e laboral no sentido de que nossos educandos encontrem na escola um espaço sintonizado com as demandas de nosso tempo. Educadores e educandos em teia, redes de educadores, redes de educandos. Trabalho em equipe, times de trabalho, aprender a conviver, viver em diversidade, respeito ao outro.

A perspectiva de atuação transdisciplinar exige do educador uma nova postura. Postura esta que exige comprometimento com sua própria formação e a construção de uma sociedade mais humana.

Quem tem disposição, vontade e uma forte dose de utopia que compre esta idéia. Quem não tem continue a culpar o educando, a família, a escola, a sociedade, o governo, o sistema. Ah! É mais fácil ir para outro planeta.

sexta-feira, 14 de março de 2008

OLHARES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE

POR PROF MS JORGE RICARDO MENEZES DA SILVA

"Toda a nossa vida não é mais do que uma permanente tentativa de comunhão com os outros”.
Thomas Bernhard



A laboralidade docente, como já é de notório saber, não se reduz ao trabalho de sala de aula, simplesmente. A trabalho do educador deve estar revestido de conscientização, isto é, consciência somatizada à ação. A reflexão em voga se reveste da pedagogia da práxis, que encontramos definida por Gadotti:


“A pedagogia da práxis é a teoria de uma prática pedagógica que procura não esconder o conflito, a contradição, mas, ao contrário, entende-os como inerentes à existência humana, explicita-os, convive com a contradição e o conflito. Ela se inspira na dialética. O referencial maior dessa pedagogia é o conceito de práxis. Práxis, em grego, significa literalmente ação...”
“A pedagogia da práxis pretende ser uma pedagogia para educação transformadora. Ela radica numa antropologia que considera o homem um ser incompleto, inconcluso e inacabado e, por isso, um ser criador, sujeito da história, que se transforma na medida mesma em que transforma o mundo”.


Em nossa perspectiva de ação, inspirada pela dialética, conforme elocubração de Darcy Ribeiro na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, cabe ao docente participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional, pois nestes espaços de comunhão nós educadores podemos refletir e idealizarmos práticas docentes sintonizadas as demandas sociais da escola pós-moderna.

Nesta escola temos que investir na perspectiva da formação das redes de trabalho, o network pregado pelos novos paradigmas das relações humanas no trabalho. O network é nada mais nada menos que a teia de relações que estabelecemos em nossa vida, seja no campo pessoal, seja no campo profissional.

A organização do trabalho docente é assim mesmo, unindo aspectos aparentemente divergentes, cristã (amai-vos uns aos outros), comunista (regime social onde existe uma igual distribuição de riqueza e a propriedade comum de todos os bens), holística (maneira de ver o mundo, o homem e a vida em si como entidades únicas, completas e intimamente associadas) e complexa (corresponde à multiplicidade, ao entrelaçamento e à contínua interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo).

Com base no exposto não podemos ter nem o pensamento e muita menos a ação reducionista, fragmentada e disjuntiva. Nosso fórum de atuação é a sala de aula e esta sala de aula se cobre do manto da interação profissional e acadêmica e tal possibilidade se constrói pelo encontro de pessoas, de modo que possam efetivar a comunhão, a discussão dos aspectos convergentes e divergentes que se estabelecem no âmbito escolar.

O compromisso docente é este. Participar ativamente, opinar, ouvir, compartilhar experiências, estar receptivo. Assim se constrói uma escola de qualidade, uma sociedade melhor e um mundo mais humano.

Você é ou está comprometido com estas idéias?

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

OLHARES SOBRE OS PRINCÍPIOS DA REALIDADE E DO PRAZER FREUDIANOS NA SALA DE AULA

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva


Freud dispensa apresentações, mas é claro que não posso me furtar em discorrer algumas considerações sobre ele. Considerado um expoente da psicanálise por seus estudos sobre a psique humana sua abordagem sempre provoca discussão sobre questões polêmicas do funcionamento da mente.

É justamente esta linha que me inquieta e mexe literalmente com meus esquemas de entendimento sobre a inteligência humana. Quero satisfazer minha imperante curiosidade de como o ser humano aprende, como entendemos as questões mais simples e as mais complexas, de como somos motivados a aprender.

Ora, esta é uma questão extremamente objetiva para quem quer de fato educar. É sabido que para que possamos ensinar é preciso que o educando queira aprender, ele precisa estar motivado. O simples fato de ele estar na sala de aula não garante o aprender, e isto nós já sabemos.

Também, sabemos que os conteúdos ministrados não são administrados a colheradas na forma de xarope. O cenário deve ser favorável, deve estimular. O educador deve ser ator, cenógrafo e contra-regra de modo a criar um clima afetivo ao desenvolvimento humano que quer proporcionar com os saberes que serão socializados. Isto não quer dizer que tudo tem que ser fácil.

Lembro que nós educadores somos pelo menos uma tríade. Por vezes somos o penhasco a ser escalado, em outras a corda que possibilita a escalada e em outros momentos a mão amiga que ajuda a tracionar o escalador.

Somos facilitadores e, também dificultadores, aqueles que contribuem na construção da personalidade humana, aqueles que tiram o educando da condição de coadjuvante para protagonista da edificação de sua própria existência. Esta é uma das exigências da construção da autonomia. O meu famoso DTJ – dá teu jeito, faz parte, concordam? Só não pode ser um DTJ sem orientação e mediação pedagógica, as estratégias precisam ser combinadas.

Esta postura tira o aluno da zona de conforto, da acomodação, da passividade. É justamente este desconforto que cria o desequilíbrio que conduzirá o educando ao pensar, ao agir, a mudança de comportamento, ao fazer, objetivo maior da educação.

Precisamos admitir que o desejo e a sedução fazem parte do cotidiano da sala de aula. O educador tem papel incisivo na edificação do desejo de saber do educando. Não a permissividade, não a tirania e sim a coerência e ao bom senso.

Nossos educandos estão impregnados pelo princípio do prazer, das respostas imediatistas, da impulsividade sendo regulados pelos nossos instintos, pelo id, muitos de nós também. Isto em uma sociedade onde impera a permissividade e a banalização de direitos sem a equidade com os deveres e com a ética, fato que conduz a comportamentos nocivos sob a óptica da sociabilidade.

O principio da realidade se estrutura nas relações interpessoais, na descoberta de nossas limitações, e se parametriza na assertativa que meu direito termina onde começa o direito de outrem. É a ação do superego sobre o ego, de nossas crenças acomodadas em nossa psique sobre nossas atitudes.O desafio é esse. Entender o complexo cenário da mente humana e daí estruturarmos estratégias para dialogar com nossos jovens.
Vai encarar?