quarta-feira, 11 de julho de 2007

OLHARES SOBRE AS FEIRAS PEDAGÓGICAS

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

A organização de Feiras Pedagógicas constitui-se como proposta que visa essencialmente para aproximar a Escola de sua Comunidade Discente. Esta é uma aposta que merece atenção na escola de ensino médio que deseja realizar de fato tratamento contextual e interdisciplinar nos conteúdos que deverão ser transformados em saberes pelos educandos. Trata-se de investir em educação plena para o presente e para o futuro de forma a integrar de forma sistêmica todos os envolvidos nos processos educativos.

Tal postulação remete-se as propostas de Freire e de Freinet. FREIRE (1996) nos submete a idealizarmos processos educativos que superem a educação bancária, baseada na transferência de conhecimentos. Suas indicações demonstram que o caminho a ser percorrido pela escola em seus processos formais de educação é o da criação de possibilidades para produção e construção do conhecimento, aqui entendemos que um caminho salutar para o desenvolvimento das potencialidades do educando e construção do conhecimento dentro da tríade cognitiva/procedimental/atitudinal é por meio da produção de projetos de trabalho intermediados por educadores na condição de orientadores de projeto.

FREINET (2000) argumenta a urgência de uma educação com funções vivas e construtivas da pedagogia do trabalho. Tal pensamento nos faz trilhar por caminhos que tendem a vislumbrar processos educativos que vão além da fragmentação proporcionada pela multidisciplinaridade, que chamou de migalhas:

“O trabalho em migalhas”, diz um autor...
Só há migalhas na nossa vida de educadores. Nem sequer conseguimos reuni-las, o que, aliás, seria inútil, pois migalhas de pão espremidas e enroladas nunca dão mais do que bolinhas, boas apenas para servir de projéteis nos refeitórios.
Migalhas de leitura, caídas de uma obra que ignoramos e que têm gosto de pão que ficou ressecando nas gavetas e nos sacos.
Migalhas de história, umas bolorentas, outras malcozidas, e cujo amálgama é um problema insolúvel.
Migalhas de matemática e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos para montar, como um quebra-cabeça.
Migalhas de moral, como gavetas que mudam de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações.
Migalhas de arte...
Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio...
Migalhas de homens!
Perigos de uma escola que alinha, compara, agrupa e reagrupa, ausculta e avalia essas migalhas.
Urgência de uma educação que evita a explosão irreparável e faz circular um sangue novo na função viva e construtiva da pedagogia do trabalho.
(Freinet, 2000, p.38)


A produção de projetos de trabalho como instrumento de construção de conhecimentos valoriza a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, pois o conhecimento é sistêmico, holístico e interrelacional, diferente do tratamento que comumente é dado nas escolas. Nesta perspectiva, o olhar sobre este processo é socializado pelas argumentações de MORIN (2003) que estabelece como premissas o pensamento complexo e a indicação de uma educação que tem como função básica a construção de uma cidadania mundial, balizada em um sentimento de planetarização da humanidade.
Portanto, o ensino médio que se destina ao preparo para a vida deve ter tratamento pedagógico que congregue um processo interativo entre o aprender a aprender, o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a ser, o aprender a conviver, o aprender a viver e a laboralidade, reforçando a vida em sociedade e o mundo do trabalho.

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