domingo, 31 de maio de 2009

OLHARES SOBRE OS PRINCIPIOS DA EDUCAÇÃO ECOLÓGICA NO ENSINO MÉDIO

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

Praticamente, em toda comunidade, seja urbana, suburbana ou rural, existe uma escola. Este binômio nem sempre se traduz numa equação somativa, isto é, escola e comunidade não costumam ser parceiras no processo educativo. O que fica notório é que o universo da escola é um e o da comunidade é outro.

Contudo, a escola é o ambiente ideal para satisfação dos anseios e desejos de melhoria das condições de vida de uma comunidade. Em uma escola atuam especialistas em humanidades e ciências naturais que podem e devem contribuir com a implantação de idéias para melhoria da qualidade de vida das comunidades que a cercam.

Portanto, na escola, além do desenvolvimento da cognição e da conscientização, pode haver a promoção e a mediação de atividades de intervenção na realidade que reflitam a agregação de hábitos e atitudes, formação de valores, construção de cidadania crítica e comprometimento com a qualidade da vida humana.

Segundo Gutierrez e Prado (1999), as descobertas do novo paradigma científico proporcionam mudanças significativas na visão de mundo. A concepção Cartesiana-Newtoniana tem sido superada pelo paradigma ecológico e holístico que se traduzem em uma nova forma de encarar a vida.

Ressalta-se que esta forma de enxergar a realidade ainda não chegou a escola, pois em geral a pedagogia tradicional é o fio condutor da filosofia pedagógica das práticas escolares. Tal fato se revela um agente nocivo ao desenvolvimento de novas mentalidades pelo fato da necessidade de posturas adequadas ao nosso tempo histórico que devem vislumbrar ações proativas no âmbito da ecologia natural, social e humana e a pedagogia tradicional valoriza a educação bancária, como argumenta Paulo Freire, que estimula a individualismo e a formação de “papagaios”, que se reduzem a repetir os fragmentos daquilo que lhes fora ensinado.

A harmonia ambiental por meio das relações da sociedade com o meio ambiente na formatação atual tem proporcionado a agressão e o esgotamento dos recursos naturais. Isaac Newton enuncia em sua terceira lei para os fenômenos naturais da Mecânica que toda ação tem uma reação de mesma intensidade e sentido contrário, isto implica a conclusões prévias que a natureza e o planeta tem reagido a todas estas agressões. Não de forma mecânica, como propôs o célebre cientista, mas de forma sistêmica, inter relacional, de uma forma não vislumbrada pelo pensamento cartesiano-newtoniano, porque a natureza deste pensamento é reducionista e disjuntivo.

O destino humano depende da nossa capacidade em assumir novas práticas sociais que permitam a perpetuação da vida humana no planeta. A cidadania ambiental e o desenvolvimento sustentável serão resultados das práticas pedagógicas onde estejam conjugados o contexto, os saberes e as aprendizagens significativas.

Para realização da educação necessária, a escola necessária deverá dispor dos educadores necessários, isto é, profissionais de educação comprometidos com seu papel social de transmissão da própria sociedade que estejam conectados ao mundo em que vivemos. A premissa básica para o processo educativo é que este seja democrático partindo do planejamento participativo como ação pedagógica essencial.

No planejamento da educação ambiental deve-se considerar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade como alicerces das práticas educativas. A interdisciplinaridade lida como uma rede de relacionamento entre as disciplinas que devem conspirar para a pluralidade contextual de cada fenômeno. A transdisciplinaridade deve ser encarada como a forma eco-sistêmica que cada disciplina se relaciona com o contexto.

Nas práticas educativas de educação ambiental, os conteúdos devem ser encarados como meios e instrumentos que fundamentarão toda ação de transformação da realidade e não com o fim única e exclusivamente propedêutico, que hipervaloriza a cognição e hipovaloriza a construção de hábitos e atitudes, deixando a margem o saber agir e o saber fazer.

A construção das competências cognitivas, sociais e morais que se referem ao saber fazer nos campos dos valores físicos, intelectuais e morais devem ser o objeto de avaliação da produção intelectual dos educandos e da eficiência e eficácia dos projetos juvenis na escola de ensino médio.
Atualmente, a questão ambiental é, antes de tudo, uma questão de atitudes. Os projetos de educação ambiental devem ter como premissa o comprometimento da escola e do educador com a qualidade de vida da comunidade com o desenvolvimento sustentável desta.

São incontáveis os problemas, estes são resultados de uma série de fenômenos de causa e efeito de degradação ambiental. Contudo, as medidas e ações comunitárias mediadas pela escola devem ser tomadas com o intuito de que gerações futuras e do próprio presente não sofram com doenças e com o esgotamento dos recursos naturais.

O primeiro passo para uma ação integrada entre a escola e a comunidade é o conhecer a própria comunidade, suas necessidades de saúde, condições hidrossanitárias e ambiente nos âmbitos natural,social e humano.

O segundo passo é o posicionamento da escola e de sua proposta pedagógica frente a estas necessidades e condições identificadas. O terceiro é a postura do educador que deixa de ser conteudista e memorístico e passa a ser o interlocutor dos saberes, na construção de conhecimentos significativos, partindo do contexto social e não abandonando os conteúdos, mas os organizando por projetos temáticos concebidos pelos atores do processo educativo: educadores e educandos.

Gramsci (2000) conjectura que o estudo e o aprendizado de métodos criativos na ciência e na vida devem começar na última fase da escola não devendo ser monopólio da universidade ou ser deixada ao acaso da vida prática: esta fase escolar deve contribuir para desenvolver o elemento da responsabilidade autônomos indivíduos.

Nestas observações, postulamos o papel da educação pela pesquisa e por projetos de trabalho como instrumentos facilitadores da aprendizagem cooperativa e atrelada a práticas sociais reforçando a autonomia intelectual e o preparo para vida prática. É salutar que se lembre que a cidadania não pode ser ensinada somente através do discurso. Cidadania se ensina e se constrói por meio de práticas individuais e coletivas que possibilitem o educando refletir a própria prática.

A formação acadêmica e escolar do ensino médio, como fase final da educação básica, deve instrumentalizar e municiar o educando de estruturas cognitivas, afetivas e psicomotoras de forma que ele possa viver e conviver na sociedade atual. A sociedade atual carece de atitudes, hábitos e valores que permeiem as relações humanas interpessoais e intrapessoais e a relação homem-ambiente, seja ele natural ou o construído.

Nesta escola há vida. Há vida porque há protagonismo. Esta é a escola dos meus sonhos e este é um sonho possível. Estamos juntos?

Nenhum comentário: