segunda-feira, 30 de março de 2009

OLHARES SOBRE O PAPEL DA ESCOLA EM TEMPOS DE BARBÁRIE

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de consciência e de inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão. E isto que apavora. Apesar da não-visibilidade atual dos infortúnios, a pressão social continua se impondo. Ela impele as pessoas em direção ao que é indescritível e que, nos termos da história mundial, culminaria em Auschwitz. Dentre os conhecimentos proporcionados por Freud, efetivamente relacionados inclusive à cultura e à sociologia, um dos mais perspicazes parece-me ser aquele de que a civilização, por seu turno, origina e fortalece progressivamente o que é anticivilizatório. Justamente no que diz respeito a Auschwitz, os seus ensaios. O mal-estar na cultura e Psicologia de massas e análise do eu mereceriam a mais ampla divulgação. Se a barbárie encontra-se no próprio principio civilizatório, então pretender se opor a isso tem algo de desesperador.

Adorno

Prezados amigos educadores, incontáveis condições sociais objetivas, dentre elas podemos destacar a ausência de políticas públicas de educação, saúde e habitação que representassem uma solução que tratasse com a devida seriedade os tumores sociais causados pela inexistência de planos de urbanização, empurraram a humanidade para a barbárie. Se faz notória em todos os recantos de nossa cidade, como uma amostra do que acontece em nosso país e em outros cantos do mundo, a emergente falta de valor a dignidade humana que tem sido a grande tônica dos noticiários na TV, nos jornais impressos, no rádio e na internet.
Infelizmente vivemos em um mundo de contradições onde condições geopolíticas comparáveis à Suécia se confrontam com outras comparáveis as ocorrências emblemáticas das experiencias sudanesas de uma guerra infindável, de valores invertidos, de interesses pessoais. Não estou falando de outro lugar do mundo, estou falando do Rio de Janeiro, da cidade que poeticamente foi apelidada de Cidade Maravilhosa.

Há dezenove carnavais atrás, o bom e velho Império Serrano cantou em prosa e verso queria novamente ver o Rio dono do samba e do grande futebol, ter um forte banco na praça e que não fosse comitê eleitoral. Os símbolos culturais que se perderam de uma cidade em que a expansão populacional se deu na forma de progressão geométrica, com problemas crônicos, os já citados anteriormente, e de transporte, atualmente dominado por transporte alternativo, onde o que poderia ser uma alternativa virou regra, atendendo interesses à moda de Harry Potter, daquele que não pode ser nomeado.

Com problemas de violência, que ficava dentro das comunidades, se avolumou e hoje as comunidades, tal quais as cidades-estado da antiguidade tem seus tribunais e conjunto de leis, que enquanto estavam no âmbito interno e não afetavam aos que vivem sob a tutela parcial ou total do estado, se fizeram de cegos. Hoje a barbárie, fecha o comércio, pára os transportes, suspendem as aulas, atacam delegacias e até invadem quartéis. O movimento social é comparável as rupturas ocorridas no advento da idade média, onde os excluídos no império romano fissuraram a estruturas da ordem política vigente, que tal como nossa sociedade massacravam minorias e os mantinham na condição marginal. Resultado disso tudo, a história nos conta. Entretanto, não aprendemos a lição.
Nós os educadores, temos que avançar para além da perplexidade, precisamos agir como corpo docente, de forma racional e sistêmica, contribuindo naquilo que nos compete, que é a educação no sentido de criar laços de afetividade. Modelos de violência moral tais como o da chantagem (se vocês não se comportarem vou fazer uma prova de arrebentar), o do desespero/desequilíbrio (vou mostrar quem manda aqui!Fora de sala. Ou Você ou eu) e o da crueldade (você é burro assim mesmo ou fez cursinho) não são mais cabíveis.

Devemos investir nas relações interpessoais, valorizando potencialidades cognitivas e afetivas, hábitos e atitudes que façam emergir a pessoa humana que habita o âmago de cada educando.
Devemos investir na compreensão do outro, na percepção das interdependências, na cooperação mútua, no exercício do falar e no ouvir, no respeito a si próprio e ao outro, na compreensão da pluralidade de idéias e concepções.

Um bom modelo a ser seguido é o da professora Erin Gruwell, narrado no filme Escritores da Liberdade, que diante de um cenário de exclusão e discriminação a adolescentes vítimas das turbulências sociais, como gangues, drogas e fragmentação da família, consegue sobrepujar incontáveis adversidades e transformar seus alunos em gente, hominizar os humanos.

Para finalizar, Gonzaguinha deixa a receita:

Ontem o menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã
Para não ter medo que esse tempo vai passar
Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo
Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será

Despeço-me no espírito de Fernando Pessoa, que nos indica que navegar é preciso, com o propósito de engrandecer a pátria e contribuir para evolução da humanidade.

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