sábado, 5 de abril de 2008

OLHARES SOBRE A EDUCAÇÃO PARA COMUNIDADE

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

Terminei os últimos apontamentos comentando sobre a alienação proporcionada pela tecnocracia, que no meu humilde ponto de vista não se resume à definição do dicionário, que atribui a esta o conceito de governo dos técnicos.

Atribuo a tecnocracia o conceito de gestão pelas e das tecnologias e neste sentido vivemos nós em uma sociedade impregnada de vários recursos que minha geração não conseguiu vislumbrar nos desenhos dos Jetsons e do Space Ghost.

Os Silvas, nós os silvícolas, os da região silvestre, os tupiniquins, vivemos e convivemos com grandes paradoxos. Se por um lado à inclusão social, assegurada por saúde, habitação e educação com qualidade, ainda não é uma realidade, a inclusão tecnológica é um fato, mesmo que de forma quimeroplástica, isto é, na plástica de quimera, o monstro mítico da Grécia antiga.

Nunca a sociedade brasileira e mundial teve acesso a tanta informação. Entretanto, na TV, no Ipod, no Mp3 e Mp4, no celular que filma, tira foto, grava voz, envia e recebe mensagens, na internet, e outros tantos veículos proporcionados pela telematização consegui-se traduzir informação em saber.

O que fazer diante de tanta tecnologia? Como lidar com este bombardeio de informações que tendem a banalizar questões tão sérias relativas a ecologia natural, social e humana?

Questionamentos que me inquietam. Indagações que me perturbam e que são capazes de me tirar de minha zona de conforto fazendo-me trilhar pelas relvas da sociologia da educação buscando construir caminhos.

Neste sentido ouso me aproximar de Martin Buber, que comunga da filosofia existencialista, e mergulhar no seio de suas proposições a respeito da educação que se concretiza pela pedagogia do diálogo.

O existencialismo propõe o homem, no plano individual e coletivo, como um ser único dotado de responsabilidades por seus atos e seu destino. Tal óptica nos leva a crença sedimentada de que somos frutos de nossas escolhas. Alguém duvida ou tem dúvidas disto?

A pedagogia do diálogo se nutre das relações interpessoais no sentido da construção das relações humanas e se alimenta da experiência das relações entre o cognoscente (sujeito da aprendizagem) e o cognoscível (objeto da aprendizagem).

Dados ao exposto, postulamos a educação para o protagonismo comunitário. Neste sentido esta educação não se permite mais ser teórica, academicista, propedêutica e bancária, se dar somente em ambientes formais por meio da memorização de fatos, de conceitos, fenômenos e procedimentos.

A educação para o protagonismo comunitário só é possível por meio do protagonismo comunitário. Para consecução deste protagonismo, a educação precisa assumir significado e ter significância, pois sem estes parâmetros fica vazia de importância e se perde como trabalho que visa transformar comportamentos.

A educação é fruto da relação educando & educador & comunidade se afirmando como desenvolvimento das capacidades com o que se convive na comunhão dos valores físicos, intelectuais, morais e espirituais por meio das relações interpessoais e intrapessoais.

A escola de ensino médio tem como função social de desenvolver no educando capacidades próprias de nosso momento histórico, tem de estar atrelada ao global e ao mesmo tempo ao local.

A complexidade curricular que dê conta destas exigências é atributo da docência, de modo a estruturar um conjunto de estratégias educativas que possibilitem um processo de ensino e de aprendizagem alinhados as conjunturas naturais, sociais, culturais e econômicas do mundo em que se vive.

Cada área curricular, cada disciplina, cada conteúdo precisa ter tratamento holístico e sistêmico de modo a dispor dos significados necessários a educação plena com forte ligação com as necessidades do educando isoladamente e em sua comunidade.

Os problemas de ecologia natural podem ser resolvidos ou pelo menos minimizados com a observância aos processos de degradação da natureza com a redução, o reaproveitamento e a reciclagem do lixo doméstico, com o uso racional da energia elétrica, com o uso racional da água, com o descarte adequado de materiais considerados não biodegradáveis tais como pilhas e baterias, e o plástico.
No campo da ecologia social as teias relacionais constituídas pela família, pela escola, pelo trabalho e pela religiosidade que tem como objeto o ser humano nas suas relações interpessoais e sua integração com o meio ambiente que se vive só vislumbrará melhorias qualitativas quando o saber conviver estimulado pela convivência permeado pela dialética forem paradigmas educacionais vivenciados ao longo da formação humana iniciada no lar e complementada pela escola.

Na área da ecologia humana há de se trabalhar a auto-estima e as relações intrapessoais, a satisfação das necessidades humanas, traduzidas por conquistas e frustrações, conduzindo ao saber ser e ao saber viver evidenciado pelo autoconhecimento das próprias potencialidades e dificuldades de modo a gerenciar suas emoções.

Neste solo que por muitas vezes revela-se como árido e desértico. Mas, há um enorme caminho a ser trilhado. Por vezes a fadiga do trabalho cotidiano nos conduz a pensarmos e até mesmo a praticarmos a educação bancária e propedêutica sem fim em si mesma. Mas, o sentimento que assola o verdadeiro educador é de realizar por meio de seu trabalho, que embora seja singular não é isolado, algo de importante na vida de seus educandos, os ensina-los a pensar e quem sabe fazer um mundo mais igualitário, com equidade e justiça social.

Os desafios impostos pelas conjunturas mundiais e locais estão aí, não adianta ter o comportamento da avestruz que diante das incertezas e das crises afunda sua cabeça como forma de proteção, mas deixa o corpo à mostra para ser devorado ou consumido pelos algozes predadores.

Há de se comportar como os gansos, que grasnam para o encorajamento do líder e se revezam na árdua tarefa de conduzir o grupo a locais mais aprazíveis quando chegado o frio e a falta de alimentos.

Há de se comportar como o beija-flor que mesmo diante do incêndio da floresta fez a sua parte no intento de apagar as chamas que consumiam o seu habitat, quando todos os outros fugiam.

Há de se comportar como a águia de modo a não se reduzir a galinha e quando necessária a renovação por mais dolorosa e sacrificante que seja ou pareça, trocar o bico, renovando suas principais ferramentas de trabalho, para conseguir sobreviver frente as adversidades da carreira.

É nesse modelo de educação e de educador muito mais que necessários que acreditamos e esta só será possível com olhares diferenciados sobre as práticas educativas, que não podem se reduzir apenas aos belos discursos, mas se revelarem no cotidiano escolar.
Você está disposto a correr este risco? Você está disposta a correr este risco?

Um comentário:

Unknown disse...

Concordo com vc, querido mestre. Acho que o desafio maior está em trabalhar a ecologia humana. Em relação à disponibilidade do corpo docente para entender e agir diante da complexidade, acredito que é urgente nos colocarmos em posição proativa, por mais que isso nos tire da zona de conforto. Ao ler seu texto,de certa forma, me senti
incomodada e isso já é um começo.
Monica Musa