terça-feira, 25 de março de 2008

OLHARES SOBRE A TRANSDISCIPLINARIDADE

POR PROF MS JORGE RICARDO MENEZES DA SILVA

Vivemos tempos de transição do mecanicismo determinista de Renée Descartes por meio do “cogito, ergo sun – penso, logo existo” para a complexidade postulada por Edgar Morin e amparada pela teia da vida de Fritjof Capra e pela autopoiese de Maturana & Varela.

A causalidade revela-se incongruente com nosso tempo sócio-histórico, pois parte da premissa newtoniana de que a queda da maçã depende simplesmente da ação da gravidade. No cenário docente seria o mesmo que afirmar dentro de uma visão reducionista e disjuntiva que a aprendizagem do educando depende simplesmente de sua vontade em ensinar.

A complexidade é a maneira de enxergar os fenômenos naturais, sociais e humanos de forma transdisciplinar, isto é, como algo tecido em conjunto por uma série de fatores interligados que compõem a estrutura e a conjuntura da questão sob observação e análise.

No campo da educação significa que planejar e avaliar parâmetros tais como o ensino, a aprendizagem, a avaliação, o desempenho docente, o desempenho discente, o questionamento dos pais/responsáveis deve observar esta dinâmica: estrutura e conjuntura.

Capra postula a visão ecossistêmica de todos os eventos que compõem a Terra. Tal pensamento demonstra que o nobre filósofo observa a rede de relações que se estabelecem para consecução de uma ação, tanto que intitulou sua obra como teia da vida.

Seguindo esta trajetória, Maturana & Varela argumentam a autopoiese, isto é, a capacidade de criação, produção e reprodução de sistemas devido as suas características singulares e plurais. Uma sala de aula é isso, o encontro de singularidades para formação de pluralidades cognitivas, atitudinais e procedimentais.

O comportamental individual e coletivo de grupos humanos se revestem dos estímulos que o cenário proporciona. O compromisso do educando com o saber, de uma forma não determinística, revela as interações e as intervenções que os docentes, tal qual um corpo, de forma sistêmica, atuam no sentido da construção do conhecimento humano equilibrando racionalidade e afetividade com o objeto de estudo e com as componentes envolvidas ambiente, recursos didáticos e educandos.

A transdisciplinaridade, portanto, articula esta rede de relações da pós-modernidade buscando a compreensão da complexidade. A disciplinariridade curricular deve ser superada por meio da transversalidade, da contextualização e da interdisciplinaridade, na atuação individual de cada docente.

Assim sendo, a coletividade docente deve se revestir da transdisciplinaridade que une a ação educativa visando à formação humana e laboral no sentido de que nossos educandos encontrem na escola um espaço sintonizado com as demandas de nosso tempo. Educadores e educandos em teia, redes de educadores, redes de educandos. Trabalho em equipe, times de trabalho, aprender a conviver, viver em diversidade, respeito ao outro.

A perspectiva de atuação transdisciplinar exige do educador uma nova postura. Postura esta que exige comprometimento com sua própria formação e a construção de uma sociedade mais humana.

Quem tem disposição, vontade e uma forte dose de utopia que compre esta idéia. Quem não tem continue a culpar o educando, a família, a escola, a sociedade, o governo, o sistema. Ah! É mais fácil ir para outro planeta.

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