sábado, 6 de outubro de 2007

OLHARES SOBRE A ÉTICA DOCENTE

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

Ainda me assusto com o quanto nossas almas estão impregnadas com o discurso do tempo da ditadura. Quando é para julgar aqueles que não exercem poder sobre nós, o peito enche-se de ar e como donos da verdade temos um parecer consolidado.

Entretanto, quando é para emitirmos nossos pareceres a respeito de nossos pares ou sobre instâncias superiores o medo e o titubeio assaltam e dominam nossa e nosso moral e suavizamos o discurso.

Tal comportamento se reveste sob a égide da ética. Todavia, eu indago se o corporativismo é ético? Se vender a dignidade para manutenção do emprego é ético? Desrespeitar o educando e seu direito a uma aula com qualidade com respeito a sua individualidade é ético?

Todas as questões supracitadas tem morada no plano moral, em nossas crenças e valores, nas magnitudes que parametrizam nossos comportamentos e nos conduzem ao conviver, ao ser, ao viver e ao agir.

Na escola, onde a educação nos aspectos cognitivo, social e moral se consolida vivemos um dilema conforme ilustremente discorre o Prof Paulo Meksenas:

A moral, ao constituir-se como um fenômeno que regula a vida social e que julga o agir considerado correto ou errado, coloca a questão da tensão/conflito que se estabelece entre o sujeito e a esfera social. Nesse ponto da discussão, podemos afirmar que o indivíduo define-se pela sua capacidade de pensar; julgar e querer, levando-o a posicionar-se frente ao mundo e frente aos outros: compreendendo; escolhendo e desejando. Por outro lado, essa tríade afirma-se na sua relação com uma outra: de contexto; de organização do trabalho; de história, isto é, emerge no campo das necessidades; da produção e reprodução da materialidade humana e, ainda, constitui-se como ações no mundo. Tais ordens estão em tensão porque nem sempre o compreender; o escolher e o desejar coincidem com as delimitações inerentes ao contexto; à organização do trabalho e à história. Trata-se do velho conflito indivíduo – sociedade e em meio a tal, os prepostos da moral modelam as escolhas individuais frente às necessidades sociais.

Nossa leitura nos leva a crer que este conflito entre o interesse individual e o coletivo manifestado se reveste do comportamento egocêntrico em busca da auto-afirmação da ideologia singular, das dificuldades em entrar em comunhão com aquilo que faz parte do cenário político e ideológico da instituição que escolhemos atuar.

Cada instituição tem seu projeto pedagógico e estes projetos têm opções políticas, ideológicas, epistemológicas por fim filosóficas que se alinham com as percepções de seus gestores e pares (coordenadores, orientadores e professores).

Viver em democracia é isto. Entender que há um mosaico. Que este mosaico pode ser reconstruído. Contudo, para o bem da coletividade a crítica ao plano escolar deve se dar no fórum específico e a sala de aula devem privilegiar a aula e não se transformar em um palanque de promoção pessoal do “eu poderia fazer se as condições fossem”.

Sou simpático ao pensamento marxista e entendo que a história da sociedade é a história da luta de classes. Só no posso concordar com posturas alienadas e comportamentos panfletários fora de época. Em minha humilde interpretação creio ser mais salutar a soma de esforços para solução conjunta dos problemas do exercício da docência do que ficarmos falando com quem não pode resolver nossos problemas.

O que me assusta é ter que lidar com pessoas onde os limites entre o dever ético e a mentira têm prismas diferenciados. Atualmente Renan Calheiros é o vilão do momento, os outros já foram esquecidos. Todos têm uma avaliação a respeito de sua postura. Afirmam que ele foi antiético e que por falta de decoro deve ser punido com a perda do mandato.

Um profissional de educação que mente, omite, altera dados, falta com a verdade, falta indiscriminadamente ao trabalho, não participa das atividades educacionais, é “corpo presente” nos conselhos de classe e reuniões pedagógicas, não cumpre o planejamento combinado é tão antiético quanto os condenáveis que estão no congresso nacional. O que os distancia é a esfera de atuação se estivesse lá fariam o mesmo.

A honestidade é uma magna virtude do campo profissional do educador, trata da responsabilidade para com o trabalho e com o serviço que presta a sua instituição e a sociedade. Trair este princípio é conspirar contra a sociedade, é conspirar contra si mesmo e contra a humanidade.

Pode parecer agressivo este olhar, mas, em nome da ética, tem certas coisas que precisam ser visualizadas de uma maneira mais crua e desnudada. Há muitos melindres no educador, precisamos nos despir deste falso código de ética que nos oprime. Não devemos proteger quem não mereça nossa proteção.

Os educadores, como qualquer outro ser humano que atua em outros planos profissionais, são passíveis de erros. Só não podemos permitir que se perpetue em nome de baixos salários, sob o véu das condições inadequadas para o exercício do magistério, comportamentos negligentes e irresponsáveis que denigrem nossa imagem e comprometem nossa nobre missão de educar.É ético lutar por boas condições de vida e de trabalho, isto alimenta o moral do educador. Para ter este moral devemos agir sob a luz da moral, sobre o alicerce transcendente da autonomia intelectual, no plano ético. Você crê nisto?

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