sábado, 15 de dezembro de 2007

Olhares sobre as Relações de Poder na Sala de Aula na Óptica Foucaultiana

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

A relação professor & aluno é algo extremamente intrigante. O que leva uns professores serem especialistas em educação a distância mesmo estando em sala de aula? O que leva outros a serem sedutores e capazes de provocar a inquietação de modo que os jovens são mobilizados pelo discurso e não vêem a hora daquela aula?

A resposta é simples: afetividade. Aquele professor que mobiliza e seduz o jovem para aula é educador. Reveste sua prática cognitiva em esferas procedimentais e atitudinais, tempero necessário que ativa os olhos, os ouvidos, o tato, o olfato e o paladar, conduzindo ao mundo complexo do saber.

A receita de Marx é clara: “a história da sociedade é a história da luta de classes”. Educadores e educandos em sala de aula fazem deste espaço uma microfísica do poder, repetem modelos em micro escala da práxis social arraigada nas relações interpessoais de dominação com a existência de dominantes e dominados.

Freire argumenta que só existe opressor porque aquele existe que se submete a opressão e ocupa passivamente o lugar do oprimido. Aí esta a burguesia, a oprimida no feudalismo e a opressora no capitalismo. Será este um comportamento natural ou uma construção social?

Foucault nos leva a refletir sobre a soberania, tirania, autoridade e autoritarismo nas relações de sala de aula. O professor com sede e gana de poder se coloca na mítica condição de um deus, acima do bem e do mal, ele tudo pode, não pode ser questionado em suas decisões pelos pobres mortais, que são os alunos, isto mesmo a – lunos, sem – luz.

Sob esta égide, o professor (diferente do educador) submete o aluno (diferente de educando) a um processo – Contrato social empírico que se alicerça e parametriza em subversão por meio da coação e privação, de obrigações e interdições. Se algo sob o olhar do “todo-poderoso” foge ao padrão estabelecido, que sequer fora combinado, o peso do martelo de Thor (como um justo juiz) atua e o professor exclui, expulsa de sala, suspende de aula o aluno-infrator.

Ora, o que é isso? Que escola é esta? Um sistema prisional, que não recupera e muito menos educa ninguém, disfarçado? Este direito de punir se reveste sob a ética da defesa da manutenção do controle social. Mas, que controle é este se não há contrato? Se há contrato, como ele é mediado?

É claro que defendo a ordem e a disciplina. Mas defendo também a liberdade. Sou um democrata, não um tirano, onde tudo é proibido, ou um anarquista, onde tudo é permitido.
Portanto, se faz necessário avaliar de forma sistêmica e holística as ações docentes. Não se trata de uma acusação e sim de assumir posturas e responsabilidades.

O que leva um educador a encaminhar um educando a OE/Coordenação/Direção? Será que foram esgotados todos os recursos dialéticos pelo educador de modo a encaminhar um educando somente em casos necessários e onde a manutenção da ordem em sala esteja abalada? Encaminhar alunos desmedidamente não é ação prematura e uma transferência da responsabilidade da gestão da sala a outrem?
Os limites são necessários. Todavia, é uma estrada de mão dupla e não uma via de mão única.