segunda-feira, 8 de junho de 2009

OLHARES SOBRE A ESCOLA COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

O novo padrão imposto pela emergência das tecnologias de gestão da produção industrial tem provocado substanciais transformações nas estruturas e relações sociais. A emergência do modelo oriental de administração da produção de bens e de serviços encurralou o modelo ocidental, pois este é baseado no modelo cartesiano, que enxerga a relação homem e trabalho como uma ligação disjuntiva que se dá pela cognição e/ou motricidade, desprezando-se a afetividade e as relações inter e intrapessoais.

Contraposto a este movimento e com forte posicionamento dentro dos mercados internacionais ascende a partir da década de 80 e marca a década de 90 de século XX, os modelos transcendentais e espiritualistas dos orientais que demonstram eficácia e eficiência no comprometimento do trabalhador com o trabalho a partir da visão integrada e sistêmica que este tem do próprio trabalho e de suas funções vitais nos processos produtivos.

Com a ruptura das fronteiras geográficas transpostas pela telematização criou-se um único mercado, o global, e estas mudanças exigem uma nova organização do trabalho e conseqüentemente das relações sociais.

Esta situação crítica pressiona modificações substanciais nos processos educativos. O homem produtivo do início do século XXI requer competências e habilidades laborais diferentes daqueles que atuavam nos processos de repetitivos para reprodução de bens e de serviços que modelados pelo Fordismo/Taylorismo impunham a racionalização e divisão do trabalho, um cartesianismo cruel, disjuntivo e alienante, e a educação, como um aparelho ideológico do estado, reproduzia fielmente este modelo.

O modelo requerido para laboralidade na contemporaneidade exige capacidade de abstração, criatividade e inventividade, compreensão da interdependência entre os fenômenos, comprometimento com a qualidade, capacidade para o trabalho em equipe, flexibilidade, polivalência, dentre inúmeras características que nutrem a formação da cidadania crítica e consciente.

A forma mais adequada de atrelar o educando do ensino médio a envolver-se com o compromisso com a aprendizagem é o afronte, o desafio, o enfrentamento de uma situação-problema. Este parâmetro proporciona ao educando lidar com a as adversidades, com a diversidade sociocultural, com as pluralidades ideológicas, com o exercício da dialética e com o desenvolvimento da liderança.

O educando do ensino médio regular possui idade média de 16 anos e de acordo com as características psicossociais desta faixa etária há uma busca pela independência moral próprio da formação da personalidade humana, período pertinente aos conflitos de concepção de mundo e forma de encarar a vida, tempo de auto-afirmação, e a escola que funciona dentro de modelos estabelecidos, reprodutora de dinâmicas sociais caducas que não tem a observância que a sociedade está numa encruzilhada paradigmática e mantêm-se atrelada as estruturas curriculares dicotômicas que não respeitam a dinâmica dos tempos, um Procusto da contemporaneidade.

Parafraseando Ferreira Gullar “caminhos não há, mas os pés na grama os inventarão” temos como indicações receituárias que apresentam norteadores para as bússolas do magistério as contribuições de Paulo Freire, Demerval Saviani ,Pedro Demo e de Gaudêncio Frigotto.

Freire (1999) discorre que não há pesquisa sem ensino e ensino sem pesquisa. Através de seus escritos revela nas entrelinhas que o ato pedagógico antes de qualquer premissa é uma ação que exige rigor metodológico, isto é, requer por parte do educador comprometimento com o ensino e com a aprendizagem, não se tratando simplesmente de transmissão de conteúdos e sim da mudança de comportamentos, objetivo precípuo da educação. Portanto, exige fundamentação nos princípios da pedagogia, da psicologia, da sociologia e epistemologia.

Saviani (2002) afirma que o ponto de partida e o ponto de chegada são a prática social passando pelos momentos da síntese precária, esta entendida como a articulação entre os conhecimentos preliminares e as experiências do educando, da problematização, tratando-se de questões que devam ser resolvidas no âmbito da prática social, pela instrumentalização, da dotação de ferramentas cognitivas e culturais, da transformação de saberes em conhecimentos, finalizando com a catarse, com a assimilação na vida prática dos conceitos a fim do enfrentamento de situações-problema, do domínio das linguagens, da compreensão de fenômenos naturais e sociais, da construção de argumentação e da elaboração de propostas de intervenção da realidade, conforme preconiza a lei 9394/96 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – DCNEM.

Demo (2000) postula que o contato pedagógico somente acontece, quando mediado pelo questionamento reconstrutivo. Caso contrário, não se distingue de qualquer outro tipo de contato. Dentro de suas perspectivas este questionamento reconstrutivo conduz ao pensar e não ao reproduzir superando o modelo tão somente memorístico e vislumbrando o modelo das aprendizagens significativas, condutora da emancipação sociopolítica e da formação da cidadania crítica.

Frigotto (1995) parte do princípio que na escola, os processos educativos não podem ser inventados e, portanto, não dependem de idéias mirabolantes, megalômanas de gênios que dispõem de planos ou fórmulas mágicas. Depende de uma construção molecular, orgânica, pari passu com a construção da própria sociedade no conjunto das práticas sociais.

Portanto, dentro das premissas previamente apresentadas, é cabível ao trabalho escolar mobilizar o efetivo docente a conceber e realizar estratégias pedagógicas onde a aprendizagem dialógica seja o fio condutor para todas as etapas do processo pedagógico.

Para haver propostas de intervenção na realidade é necessário que a escola, como instituição que promove a socialização dos saberes construídos pela humanidade, seja gerida dentro das perspectivas fundamentadas pela pedagogia histórico-crítica postulada por Saviani onde o trabalho educativo começa e termina no campo das práticas sociais.

Neste olhar sobre as estratégias de ensino-aprendizagem, os jovens deverão ser mobilizados a problematização, a expressar suas idéias, crenças e conhecimentos a respeito de uma temática eleita por eles mesmos. Um aspecto pertinente e congruente a esta fase é o trabalho em equipe, como forma de exercício da dialética, respeito às diferenças e a diversidade ideológica e cultural, bem como elemento que visa superar a postura egocêntrica e individualista, visto que estimula o respeito às vivências e aos saberes individuais.

Este processo educativo é um embrião pedagógico de educação científica e tecnológica, uma vez que predispõe o educando a vivenciar ambiente próprio do ensino superior e do mundo laboral, simultaneamente, conectando aspectos aparentemente divergentes, porque revela-se holístico e complexo, ao invés de ser cartesiano e disjuntivo.

Por isso, o ensino médio com base na educação técnica/profissional se torna imprescindível na atualidade, pois ao mesmo tempo é capaz de conduzir-se pelas veredas do discurso racional próprio da ambientação universitária assim como é o espaço para desenvolvimento das competências cognitivas, procedimentais e atitudinais sintonizadas com a laboralidade, atendendo as disposições da lei 9394/96 que discorre que os fins da educação nacional são o desenvolvimento pleno do educando, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o mercado de trabalho.