domingo, 20 de abril de 2008

OLHARES SOBRE UMA EDUCAÇÃO HOMINIZADORA EM UMA ESCOLA HUMANIZADA

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

O cotidiano escolar é revestido de procedimentos e ações que findam consolidando no professor uma postura mecanicista, transformando-o em um verdadeiro tarefeiro escolar, postura profissional altamente distanciada dos referenciais necessários àquele que deve estimular o pensamento crítico e a cidadania participativa.

Cabe a ele apenas o ensinar, com caráter disjuntivo e reducionista, a memorização de fatos, conceitos e procedimentos, e aos alunos aprender dentro destas premissas. Nesta óptica se eles não aprendem, não é responsabilidade do professor pelo simples fato de que ele ensinou. Não é uma acusação. Não estamos diante de um tribunal e muito menos sou um promotor de justiça. É uma infeliz constatação. E esta está contribuindo na conformação de hiatos sociais que formam verdadeiros abismos entre humanos.

Esta visão pontual e fragmentada é fruto de uma formação cartesiana alicerçada por séculos de distorções interpretativas do papel da educação no desenvolvimento humano em todas as suas variáveis: cognição, psicomotricidade e afetividade.

Para romper com a postura academicista e bancária que a educação e o professor estão parametrizados, a escola deve investir na sensibilização dos profissionais da educação de modo a comprometê-los com a redução dos processos de exclusão escolar e consequentemente social que afetam a comunidade local e, por conseguinte a aldeia global.

A hominização é o processo de transformação biológica, física, psíquica, social e espiritual do símio em ser humano. Infelizmente, muitos de nós embora tenhamos estética humana, sob a mitologia judaico-cristã sejamos a imagem e a semelhança de Deus, estamos muito aquém das parametrizações comportamentais que nos aproxime do divino, conforme narrativas do evangelho.

Ser hominizado é compreender e agir de forma humana. É integrar a tríade da essência humana: mente, corpo e emoções. É entender o próprio eu, conforme postula o oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo que as portas do conhecimento se abrirão para ti” e daí entender o outro, em suas potencialidades e em suas dificuldades. É contribuir de forma magistral no desenvolvimento humano de outrem.

Na escola todos os professores são humanos. Entretanto, não podemos afirmar que todos são humanizados. A humanização requer o atendimento de quatro prerrogativas básicas: resolutividade, maturidade emocional, autonomia moral e intelectual, e visão holística.

A resolutividade se reveste da capacidade do educador estar preocupado e agir em relação a sua formação. No entendimento que sua competência laboral deve ser objeto constante de avaliação em todos os segmentos: cognitivo, procedimental e atitudinal.

A maturidade emocional reside em saber conviver, em lidar com as diferenças e com a diversidade, em administrar os conflitos de forma imparcial utilizando referenciais de justiça e equidade, lembrando sempre que o adulto e o profissional de educação é você.

A autonomia moral e intelectual se cobre do plano ético, do saber agir e conduzir situações empregando os padrões morais, que fundamentam o senso comum da vida em sociedade e ao mesmo tempo tendo bom senso em aplicar o direito procurando caminhos para o exercício docente com honestidade e dignidade humana.

A visão holística é o pleno entendimento das variáveis que compõem o ato de ensinar no sentido antropológico, respeitando os caracteres biológicos, psicológicos, sócio-culturais e espirituais do educando.

Educar nestas premissas é um sonho possível? Você é um hominizador humanizado? Você é uma hominizadora humanizada?

Na busca incessante de uma resposta que satisfaça meus anseios e necessidades, martelam em minha alma educadora as provocações do ilustre brasileiro Huberto Rohden:

“O educador não é um simples professor que transmite idéias a seus alunos – é um verdadeiro mestre que vive tão intensamente a verdade que seus discípulos se sintam irresistivelmente contagiados por estas poderosas auras”.

“Antes de educar os outros, deve o homem educar a si mesmo”.

“O homem instruído na ciência pode ser bom ou mau, mas o homem que educou sua consciência é bom e feliz”.

“Pois deve o educador saber que todo ser humano é um universo, isto é, uma unidade (uni) que se desdobra em diversidade (verso)”.


Entende-se, portanto, que o educador esteja comprometido e conscientizado da ação social que lhe é depositada. Educador não é profissional de linha de produção, até porque mesmos estes na pós-modernidade estão comprometidos por questões de programas de qualidade na redução das perdas nos processos de produção de bens e com a visão sistêmica da própria produção. Crê-se que em educação, por ser um serviço, não deveria ser diferente.

O educador deve compreender, ainda, seu compromisso político e ideológico com a educação, com a formação e o desenvolvimento de seres humanos, que não quer dizer ser ou estar adepto a um partido político, e sim a importância coletiva de sua labuta, da teia que conforma a ação pedagógica, time de professores atuando para vencer os desafios impostos sejam eles desvalorização financeira ou moral, classes numerosas, falta de infra-estrutura, violência urbana etc.

Finalmente, fica a mensagem em forma de poesia de Bertold Brecht:

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

É preciso, necessário e salutar se engajar nesta luta.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

FOLHA DIRIGIDA - COLUNA DOS COLÉGIOS



Coluna dos Colégios



17/04/2008

Alunos da Eterj promovem ação social para comunidadeSer mais do que instituição de ensino e atender também as necessidades da comunidade. Estes são os objetivos da Escola Técnica do Rio de Janeiro (Eterj/Novo Rio) com a realização de projetos destinados aos moradores de Santíssimo, bairro em que a escola se localiza.
A região apresentou um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) extremamente baixo, da ordem de 0.780, no censo IBGE em 2000. De acordo com a coordenação da escola, esse índice resulta da exclusão social e para ajudar a melhorar a situação e conscientizar os alunos de que é preciso agir, a Eterj mobilizou a comunidade escolar para realizar sua primeira ação social em 2008.
O evento atendeu 50 famílias carentes da região vizinha à escola.Cerca de 250 pessoas, entre crianças e adultos foram recebidos, no último fim de semana com um Café da Manhã Solidário. As pessoas também participaram de atividades artísticas e sociais como Oficina de Cultura e Campanha de combate a Dengue.
Para professora Célia Mirian Melo, coordenadora do evento, o envolvimento dos alunos foi a maior conquista. "Os mesmos atuaram em todas as etapas da ação, desde a obtenção dos alimentos - que foram doados às famílias - e roupas até a distribuição dos gêneros para a população atendida".
De acordo com o coordenador pedagógico da instituição, professor Jorge Ricardo Menezes da Silva, a educação tem o objetivo preparar o jovem para ser útil nas mais diversas esferas sociais. "A educação precisa assumir significado ou ficará vazia de importância".

sábado, 5 de abril de 2008

OLHARES SOBRE A EDUCAÇÃO PARA COMUNIDADE

Por Prof Ms Jorge Ricardo Menezes da Silva

Terminei os últimos apontamentos comentando sobre a alienação proporcionada pela tecnocracia, que no meu humilde ponto de vista não se resume à definição do dicionário, que atribui a esta o conceito de governo dos técnicos.

Atribuo a tecnocracia o conceito de gestão pelas e das tecnologias e neste sentido vivemos nós em uma sociedade impregnada de vários recursos que minha geração não conseguiu vislumbrar nos desenhos dos Jetsons e do Space Ghost.

Os Silvas, nós os silvícolas, os da região silvestre, os tupiniquins, vivemos e convivemos com grandes paradoxos. Se por um lado à inclusão social, assegurada por saúde, habitação e educação com qualidade, ainda não é uma realidade, a inclusão tecnológica é um fato, mesmo que de forma quimeroplástica, isto é, na plástica de quimera, o monstro mítico da Grécia antiga.

Nunca a sociedade brasileira e mundial teve acesso a tanta informação. Entretanto, na TV, no Ipod, no Mp3 e Mp4, no celular que filma, tira foto, grava voz, envia e recebe mensagens, na internet, e outros tantos veículos proporcionados pela telematização consegui-se traduzir informação em saber.

O que fazer diante de tanta tecnologia? Como lidar com este bombardeio de informações que tendem a banalizar questões tão sérias relativas a ecologia natural, social e humana?

Questionamentos que me inquietam. Indagações que me perturbam e que são capazes de me tirar de minha zona de conforto fazendo-me trilhar pelas relvas da sociologia da educação buscando construir caminhos.

Neste sentido ouso me aproximar de Martin Buber, que comunga da filosofia existencialista, e mergulhar no seio de suas proposições a respeito da educação que se concretiza pela pedagogia do diálogo.

O existencialismo propõe o homem, no plano individual e coletivo, como um ser único dotado de responsabilidades por seus atos e seu destino. Tal óptica nos leva a crença sedimentada de que somos frutos de nossas escolhas. Alguém duvida ou tem dúvidas disto?

A pedagogia do diálogo se nutre das relações interpessoais no sentido da construção das relações humanas e se alimenta da experiência das relações entre o cognoscente (sujeito da aprendizagem) e o cognoscível (objeto da aprendizagem).

Dados ao exposto, postulamos a educação para o protagonismo comunitário. Neste sentido esta educação não se permite mais ser teórica, academicista, propedêutica e bancária, se dar somente em ambientes formais por meio da memorização de fatos, de conceitos, fenômenos e procedimentos.

A educação para o protagonismo comunitário só é possível por meio do protagonismo comunitário. Para consecução deste protagonismo, a educação precisa assumir significado e ter significância, pois sem estes parâmetros fica vazia de importância e se perde como trabalho que visa transformar comportamentos.

A educação é fruto da relação educando & educador & comunidade se afirmando como desenvolvimento das capacidades com o que se convive na comunhão dos valores físicos, intelectuais, morais e espirituais por meio das relações interpessoais e intrapessoais.

A escola de ensino médio tem como função social de desenvolver no educando capacidades próprias de nosso momento histórico, tem de estar atrelada ao global e ao mesmo tempo ao local.

A complexidade curricular que dê conta destas exigências é atributo da docência, de modo a estruturar um conjunto de estratégias educativas que possibilitem um processo de ensino e de aprendizagem alinhados as conjunturas naturais, sociais, culturais e econômicas do mundo em que se vive.

Cada área curricular, cada disciplina, cada conteúdo precisa ter tratamento holístico e sistêmico de modo a dispor dos significados necessários a educação plena com forte ligação com as necessidades do educando isoladamente e em sua comunidade.

Os problemas de ecologia natural podem ser resolvidos ou pelo menos minimizados com a observância aos processos de degradação da natureza com a redução, o reaproveitamento e a reciclagem do lixo doméstico, com o uso racional da energia elétrica, com o uso racional da água, com o descarte adequado de materiais considerados não biodegradáveis tais como pilhas e baterias, e o plástico.
No campo da ecologia social as teias relacionais constituídas pela família, pela escola, pelo trabalho e pela religiosidade que tem como objeto o ser humano nas suas relações interpessoais e sua integração com o meio ambiente que se vive só vislumbrará melhorias qualitativas quando o saber conviver estimulado pela convivência permeado pela dialética forem paradigmas educacionais vivenciados ao longo da formação humana iniciada no lar e complementada pela escola.

Na área da ecologia humana há de se trabalhar a auto-estima e as relações intrapessoais, a satisfação das necessidades humanas, traduzidas por conquistas e frustrações, conduzindo ao saber ser e ao saber viver evidenciado pelo autoconhecimento das próprias potencialidades e dificuldades de modo a gerenciar suas emoções.

Neste solo que por muitas vezes revela-se como árido e desértico. Mas, há um enorme caminho a ser trilhado. Por vezes a fadiga do trabalho cotidiano nos conduz a pensarmos e até mesmo a praticarmos a educação bancária e propedêutica sem fim em si mesma. Mas, o sentimento que assola o verdadeiro educador é de realizar por meio de seu trabalho, que embora seja singular não é isolado, algo de importante na vida de seus educandos, os ensina-los a pensar e quem sabe fazer um mundo mais igualitário, com equidade e justiça social.

Os desafios impostos pelas conjunturas mundiais e locais estão aí, não adianta ter o comportamento da avestruz que diante das incertezas e das crises afunda sua cabeça como forma de proteção, mas deixa o corpo à mostra para ser devorado ou consumido pelos algozes predadores.

Há de se comportar como os gansos, que grasnam para o encorajamento do líder e se revezam na árdua tarefa de conduzir o grupo a locais mais aprazíveis quando chegado o frio e a falta de alimentos.

Há de se comportar como o beija-flor que mesmo diante do incêndio da floresta fez a sua parte no intento de apagar as chamas que consumiam o seu habitat, quando todos os outros fugiam.

Há de se comportar como a águia de modo a não se reduzir a galinha e quando necessária a renovação por mais dolorosa e sacrificante que seja ou pareça, trocar o bico, renovando suas principais ferramentas de trabalho, para conseguir sobreviver frente as adversidades da carreira.

É nesse modelo de educação e de educador muito mais que necessários que acreditamos e esta só será possível com olhares diferenciados sobre as práticas educativas, que não podem se reduzir apenas aos belos discursos, mas se revelarem no cotidiano escolar.
Você está disposto a correr este risco? Você está disposta a correr este risco?